ENTRE PERERECAS E GAMBÁS

Meu sobrinho quis se casar numa cidade pequenina, onde está o sítio da família de sua esposa, que foi o local escolhido para a festa do casamento. Por motivos óbvios, não vou nesta crônica dizer o nome da cidade nem da pousada que a protagoniza...

Minha irmã se esforçou em encontrar uma boa pousada onde os parentes do lado do noivo e da noiva pudessem ficar bem instalados sem pagar um preço muito alto. E reservou para nós a pousada que vamos chamar de Pocotó, por motivos igualmente óbvios, como poder-se-á ver logo a seguir...

Chovia muito naquela sexta-feira. Ao chegarmos na cidadezinha onde às onze horas da manhã seguinte seria celebrado o casamento, rumamos para a estrada de terra que levava à Pousada Pocotó, que no site da Internet parecia simpática, ainda que bem simples. Houve trechos do caminho que não sabíamos onde estava a estrada, tamanha a quantidade de água empoçada. Parecia que atravessávamos córregos, riachos... Finalmente chegamos ao nosso destino, exaustos, ávidos por uma boa ducha quente e uns minutos de descanso numa boa cama. Quá quá quá...

Fui fazer o check-in na recepção (?). A recepcionista era uma menina de uns treze anos. Fez a nossa ficha, e nos deu as chaves dos dois chalés que iríamos ocupar, eu e minha esposa em um, meu filho e meu sobrinho em outro.

Enfrentando um dilúvio, debaixo de nossos guarda-chuvas, rumamos para nossos alojamentos. Meu filho tentou abrir a porta e não conseguiu. Ainda bem que o chalé tinha uma janela ao lado da porta. Foi por aí que ele e seu primo entraram e saíram durante nossa estadia na Pousada Pocotó.

Guarda-chuva, malas, vestido de festa no cabide, cuidado para não molhar, cuidado para não cair... Entramos na nossa alcova. Uma cama de casal, duas camas de solteiro, lençóis de uma cor indefinida, nenhum armário, alguns pregos na parede. Uma prateleira. Fui ver o banheiro. Parecia um desses banheiros de clube, com um chuveiro elétrico de um lado, e do outro uma pia.

Bom, não havendo armários, minha esposa não pôde cumprir seu ritual de chegada em qualquer hotel, que é desfazer as malas e pendurar as roupas em cabides e acomodar as miudezas em gavetas, que também não as havia...

O meu ritual de chegada em hotel consiste em imediatamente tomar uma ducha para descansar da viagem, e essa havia sido especialmente cansativa, oito horas debaixo de chuva torrencial... Ducha?

Fui para o banheiro, liguei o chuveiro, e... surpresa! Logo vi que tinha companhia, três rosadas e saltitantes pererecas. Esses bichos são espertos e nojentos. Peguei o rodo (é, havia um rodo no banheiro) e comecei a lutar contra elas. Escaparam todas para vãos e buracos existentes. O que seria a minha ducha repousante, transformou-se num rápido banho sob um legítimo Lorenzetti. Ainda bem que havia levado as minhas havaianas para não pisar naquele chão nojento... Mas tinha que usar as toalhas gentilmente oferecidas pela pousada, já que não havíamos trazido as nossas... Isso serviu para nunca mais viajar para lugar nenhum sem as nossas próprias toalhas de banho...

Chegou a vez de minha esposa tomar banho. Avisada que não estaria sozinha, foi mais rápida que eu...

Bom... Banho tomado, olhamos para a cama, tentados a deitar para descansar até a hora do jantar. Sinceramente não deu vontade.

Sem outra opção, fomos para a área social (?) da pousada, onde já estavam nos aguardando minha irmã, meu cunhado, meu filho e meus sobrinhos. Aí pudemos ver que já haviam chegado outros hóspedes, provavelmente convidados para o casamento. Em tempo: a minha irmã que havia reservado aquele paraíso para nós não era aquela que ali estava, pois se fosse...

Já que estávamos ali, resolvemos relaxar, pedir uns aperitivos. Chamei a menina, que aparentemente era a única funcionária presente e pedi o cardápio. Não havia. Perguntei se havia algum tira-gosto, alguma coisa para comer bebericando uma cerveja. Ela disse que poderia ver se havia um queijo.

- Serve, respondi. Mas me diga, onde estão os outros funcionários?

- O patrão e a patroa viajaram. Só estou eu...

Ela trouxe o queijo picado, um queijo mineiro de meia-cura e cerveja. Eu nem perguntei se havia vinho, minha bebida preferida...

Enquanto estávamos ali, comendo o queijo, conversando e bebendo cerveja, ficamos observando o movimento. Uma hóspede, parente da noiva de meu sobrinho veio reclamar que o chuveiro do seu chalé não funcionava. Outra veio pedir um transformador que voltagem para ligar o secador de cabelo. Não havia. A pobre menina, prestes a entrar em pânico...

Aproximava-se a hora do jantar. Minha esposa perguntou o que havia.

- Arroz, feijão, salada de alface e picadinho de carne está bom? – perguntou a já apavorada menina que nos atendia.

Ou estávamos com muita fome ou o picadinho da Pousada Pocotó não estava assim tão ruim...

Depois do jantar, fomos jogar um buraco para passar o tempo, enquanto as mulheres foram assistir a novela. De repente, gritos, correria...

Por trás da TV um grande e gordo rato deu o ar de sua graça... Depois sumiu em direção à cozinha, em direção àquela cozinha onde estava aquele queijo de havíamos comido...

Depois de um dia de tantas aventuras, só nos restava dormir para acordar descansados para o casamento. Já havíamos decidido que não ficaríamos hospedados naquele lugar por mais um dia, conforme o acertado e pago. Eu pessoalmente, depois da festa do casamento iria procurar um hotel na cidade a 40 quilômetros dali.

Escovamos os dentes desconfiados, olhando os cantos do banheiro tentando não encontrar novamente nossas rosadas companheiras de quarto. Deitamos, apagamos a luz, e quando o sono estava chegando minha mulher me sacudiu.

- Tem gente andando no telhado!

Lembrei-me da minha infância, quando morava numa casa velha. Uma noite fomos acordados por um barulho assim, e no dia seguinte meu pai localizou os autores do tumulto no forro de madeira. Sonolento, respondi:

- Não liga, não. É apenas um gambá. Vamos dormir!