Quem somos nós? Quem são os outros?

“Segundo o Budismo as três características da existência são:

1) Impermanência

2) Insatisfatoriedade

3) Impessoalidade

O corpo é impermanente, as sensações, são impermanentes, as percepções são impermanentes, as formas mentais são impermanentes, e as consciências são impermanentes. “E tudo o que é impermanente é sujeito ao sofrimento e mudança, não se pode corretamente dizer: isto pertence a mim, isto sou eu, isto é o meu ego.”

O Rex ri de mim e diz que ainda estou bem longe disso. Me conhece demais o dinossauro metido! Realmente ainda não consigo me desprender do mundo e negar a existência do ser cheio de sofrimentos que existe em mim.

Para Buda, desejar é sofrer, querer é sofrer, egoísmo é sofrimento. E como ainda sou egoísta! Espero amor, espero consideração, espero apoio. Espero tudo isso que todos esperam uns dos outros, sobretudo se entre eles houver um laço qualquer de consangüinidade ou sentimento.

No entanto, quem somos nós? Quem são os outros? Quem são os parentes, quem são os estranhos? Somos todos estranhos uns aos outros, mesmo os nascidos conosco e de nós, mesmo aqueles dos quais nascemos.

Não há pais que matam filhos e filhos que matam pais? Não existem irmãos capazes de levantar contra seus irmãos faca, espada, revolver, metralhadora, desde os imemoriais tempos?

Estamos pais, filhos e irmãos, por que – creio eu – não somos. Estamos. Apenas estamos nesse mundo, tal como disse Sidarta Gautama, o Buda histórico... o cara que descobriu, já adulto, que no mundo havia sofrimento e que foi buscar a razão deles.

Estamos médicos, professores, estamos ricos, estamos pobres e somos só nós mesmos, despidos no meio do deserto pregando ao vento nossas “verdades”. Só somos quando nascemos, incapazes de pronunciar algo além do choro desesperado e sofrido da dor de receber o ar nas guelras que devem à força se tornar pulmões. Ali, naquele momento único somos nós mesmos e nada além e o que estamos para ser está marcado em toda a história pregressa do mundo que nos receberá.

O pior bandido e o homem mais santo, antes de estarem nessas posições, eram recém nascidos que gritavam a dor de respirar. Suas almas ainda não haviam despertado e a decisão de estar bom ou mau, ainda não lhes havia acudido. É evidente que a maioria de nós não terá que tomar decisões tão radicais entre a bondade extrema e o mal total, mas também nós as pessoas comuns tem que decidir como estará. Se estará médico, capaz de promover a saúde de muitos dentro de um hospital ou lixeiro, fazendo o mesmo, saneando a cidade que – sem sua presença e empenho real e honesto, tão necessário a ele quanto ao médico – seria um foco de miasmas pestilentos capaz de causar doenças e desconforto aos mesmos que o médico cuida.

Assim, médico ou lixeiro, não importa quem somos, mas importa como estamos e sendo quem estamos!

O Rex morre de rir, dizendo que eu estou cada vez pior, por que agora dei para filosofar e discursar às gaivotas e quase derruba seu bloody Mary (bebendo de manhã, o viciado!).

Dinossauro besta! Estamos em Maceió, metido, e aqui não tem gaivota.