FATOS MUSICAIS I - A VIDA NÃO É MOLE NÃO!

Tem certas coisas que teriam um desdobramento mais sinistro se não fosse a música para atenuar os ânimos.

Há uns tempos atrás, eu, Cesinha Rodrigues e Nema Antunes nos aventuramos em aceitar um contrato para tocar, todos os fins-de-semana, na cidade de Unaí-MG. Saíamos de Brasília às 18h e chegávamos lá por voltas de 20h. O show começava às 21h e por lá ficávamos para tocar também no sábado e voltar no domingo. Ficamos nesta rotina uns 6 meses seguidos, que por sinal registramos boas recordações. Vou relatar uma delas.

Foi numa noite quente de verão que pegamos a estrada para Unaí e chegamos lá por volta de 20h30. Ficávamos hospedados no casarão do dono do bar que tinha a mania de falar que “a vida não é mole não”. Era só avistar a gente chegando com os instrumentos que ele mandava a frase que ficou sendo uma espécie de marca registrada.

Em Brasília tinha uma turma, de 10 a 15 pessoas, que adorou a idéia de acompanhar a gente. Ia em dois ou três carros e chegava lá um pouquinho mais tarde, por voltas de 22h, curtia a noite e só voltava no Domingo. Ficávamos todos amontoados no casarão. Era aquela farra em Unaí!

Mas a vida não é uma reta. Tem noites com lua e outras sem. Foi numa noite sem luar que as energias pitorescas resolveram se manifestar. A noite prometia! O bar estava cheio de pessoas interessantes. Nosso periquito (nome que os músicos acompanhantes dão para aquele que canta e puxa o repertório), era o Cesinha. Neste dia quando subimos no palco as pessoas, fugindo um pouco à regra, nos aplaudiram. Aqui abro um parêntese....

Gostaria de informar que músico adora aplausos. Vou mais além, todo artista gosta de ser aplaudido. É um alimento para a inspiração. Peço aos freqüentadores de casas noturnas para não se inibirem na hora do aplauso. Se você, caro leitor, gostou do trabalho do artista, aplauda, mesmo que seja sozinho. Mande a informação que ele está agradando, que você está gostando. Verás a ligação positiva e harmoniosa que vai surgir deste gesto tão simples e simpático. Mas voltando a nossa história.....

Com os aplausos subimos no palco, ligamos a aparelhagem, fizemos um pequeno teste chamando o Alonso – “Alô som, alô som” e estando tudo bem Cesinha começou a cantar. A música era “Nos Bailes da Vida” do Milton Nascimento e Fernando Brant. Por sinal esta música é uma espécie de hino do músico da noite. Tudo muito legal, tudo muito bonito, mas quando chegávamos na última estrofe da música deu um problema na garganta do Cesinha que ele simplesmente TRAVOU. Kkkk! Engasgou e não se recuperou. A voz não saía. Ele só conseguiu dizer no microfone, com a voz muito esquisita, que nós íamos fazer um pequeno intervalo. Kkkkk!

O dono do bar gritou lá do caixa:

- A vida não é mole não!

Eu e o Nema já descemos rindo e nos bastidores caímos na gargalhada com o Cesinha. E o Nema falou:

- Pô Neguinho, na primeira música você já faz intervalo? Kkkkkkkkkk!!!!!

Bem, depois de beber um coquinho (água de coco com pinga) que o dono do bar mandou em caráter de urgência, voltamos a tocar.

Que Nossa Senhora do Eixão proteja a garganta dos nossos músicos da noite.

Duda Leal
Enviado por Duda Leal em 13/05/2009
Reeditado em 13/05/2009
Código do texto: T1591524