EU QUERO PAZ

Sempre que vou ao supermercado me deparo com um rapaz que fica, me parece que durante todo o dia, sentado no chão, ele mais sujo que o próprio chão e quando alguma pessoa se aproxima ele vai ao encontro e pede, pede qualquer coisa, uma caixa de leite, um pacote de bolacha, uma caixinha de chocolate em pó, pão, e na véspera da páscoa pediu-me uma caixa de bombons. Confesso que mesmo as autoridades dizendo que não se deve dar nada, eu dou, sempre que posso, e creio que muita gente faz o mesmo.

Como negar a quem pede, se outros estão roubando?

O que está sendo feito por estas criaturas de Deus?

Dói demais esta incapacidade que sinto de não poder ou não saber o que fazer. Como é possível ter paz se a nossa volta vemos coisas assim. Um moço sem nenhum problema físico aparente, simpático, e que poderia e deveria estar vivendo decentemente, está assim, na mendicância

Recentemente consegui me aproximar e conversar um pouco com ele. Olhei em seus olhos e não senti receio algum, ele me pareceu apenas estar trabalhando, do seu jeito. Perguntei-lhe a idade, e fiquei surpresa pois ele aparenta uns quinze anos mas diz que tem dezenove. Falou que a mãe está velha e que eu podia ir na sua casa. Perguntei-lhe porque não trabalha, sorriu sem jeito e disse que não dá. E acho que ele tem razão, quem daria serviço para um menino maltrapilho e sujo, se até para os meninos bem preparados está difícil o emprego?

Talvez a minha situação seja pior do que a dele que já se acostumou a pedir esmolas, porque eu não consigo me acostumar a ver meninos em tal situação.

Passam de quatro horas da madrugada e não consigo dormir. Preciso fazer alguma coisa. Preciso tentar, pelo menos tentar salvar aquele menino. Quero faze-lo compreender o quanto é bom ganhar o pão de cada dia sem precisar mendigar. Quero poder mostrar-lhe uma maneira de faze-lo.

Creio que só poderemos ter a tão almejada paz quando todos nós pais, mães, avós, tios irmãos, nos dermos as mãos e abraçarmos a causa dos desvalidos. Olhar nos olhos destes meninos e dizer-lhes que os amamos antes de oferecermos a esmola que pedem.

Como diz o ditado: “uma andorinha só não faz verão” mas de minha parte vou tentar buscar o calor para oferecer. Antes que o inverno me mate de dor.

Gerci Oliveira Godoy