Mais uma de amor

Porque todas as histórias são histórias de amor...

[Schopenhauer]

No princípio, amou a delicadeza das palavras, o jeito sereno de falar de tudo um pouco, de compreender o sentido da vida, os sentimentos do mundo. Surpreendeu-se com os gostos parecidos, as afinidades cotidianas. Alegrou-se com o encanto das almas que compreendiam o sentir uma da outra, entendiam-se para além das palavras.

No convívio que se estabeleceu, amou o sorriso, o olhar, a simpatia, o bom humor, a prosa inteligente, os sonhos partilhados, a largueza da amizade, o respeito demonstrado com os iguais e os diferentes.

Como não amar alguém assim? Como não querer estar ao lado, partilhar o que a vida oferece com quem comunga dos mesmos sonhos? Como não alimentar a alma com o desejo de felicidade, de amor pleno?

Na consciência do sentimento, a certeza de que não importava o rumo da vida: uma nova etapa se desdobrava a sua frente e assim, com o coração em festa, amou o ser que habitava as palavras, que enchia de cor e sentido cada gesto de carinho, cada gentileza proferida como canção, como lume de estrelas.

Acariciava aquele amor que nascia com dedos delicados. Como dava prazer observar essa “plantinha” crescendo ao sol, livremente! A essa altura, mesmo á revelia de suas vontades, a natureza amorosa de ambos providenciava os cuidados necessários para que o crescimento acontecesse sem sobressaltos, definitivo, avassalador.

Lado a lado, mediam a distancia dos espinhos de ambos, temerosos, cuidadosos com a entrega que exige cada afeto, pois só quem amou um dia sabe o quanto é indispensável, o quanto se precisa dele para continuar vivendo, sonhando. Em jogo, a história de vida de cada um, baú de tesouros que carregavam sempre com esperança, com disposição de partilha.

Tornou-se imperativo viver o amor com que a vida os presenteara. Planejaram cuidadosamente cada detalhe, mas, deixaram ao encargo da própria vida a surpresa, o encanto do momento. Não havia mais palavras a serem ditas pois o olhar apaixonado, o bater descompassado dos corações, as bocas secas, as mãos trêmulas e geladas, falavam por si só.

No abraço, ficaram a ouvir o coração um do outro, felizes, emocionados, a alquimia dos cheiros realizando o milagre da sincronicidade. E quando suas bocas se buscaram num beijo, suas almas finalmente descansaram. Longa foi a jornada de tantas vidas em que aguardavam esse reencontro.