Sempre igual - os sinais evidentes de neurose no mundo ao redor...
Sempre igual - os sinais evidentes de neurose no mundo ao redor...
Todo manhã ela entra apressada nas pistas internas do local de trabalho e, mesmo que seja de manhãzinha e o dia esteja apenas começando, ela aperta o pé no acelerador, para ultrapassar o carro dos colegas, que dirigem na velocidade regulamentada para o local. De vez em quando um deles leva uma fechada na entrada do estacionamento.
Sempre que ele chega, encontra os colegas entrando pela prática porta lateral. Mas, ainda que o convidem, ele agradece e sempre dá a volta e entra pela porta principal do prédio.
Pela manhã e depois do almoço, ele chega e estaciona o carro sempre na mesma vaga, no estacionamento de funcionários. Quando alguém chega primeiro e estaciona em seu lugar, ele não consegue evitar sua manifestação de desgosto, e levanta os limpadores do vidro do carro estacionado, como uma espécie de sinal de alerta ao colega atrevido...
Depois que volta do almoço, um outro colega vai ao banheiro coletivo e, ao final, faz uma bolinha de papel, e entope a cuba do lavatório. Não se esquece nunca. Sempre a cuba do lavatório próximo à porta.
Sempre que ele sai da sala de arquivo, inevitavelmente vai ao interruptor e apaga as luzes da sala, mesmo tendo conversado com colegas que estavam lá, consultando fichas e dados. Alguns deles ainda ficam estupefatos. Algumas vezes, ele volta para acender novamente as luzes, sem dizer palavra...
A toda hora o telefone toca e ela tem um perrengue da família para a incomodar e, lhe tirar o sossego e o bom humor - a sobrinha distraída que veio do Tocantins, o irmão que deixou a mulher, o sobrinho da irmã que não consegue tratar nem de si. E ela vai arquejando, se enrolando com problemas alheios, lutando com a pressão arterial que não consegue controlar mais...
Mal o presidente do sindicato pisa no prédio e ela corre até ele para perguntar por alguma melhoria salarial, para reclamar da falta de ação da parte dele e, depois começar a ladainha de sempre, sobre o custo de vida, as taxas de juros do cheque especial, o carro financiado que está por perder, entre outras coisas...
Não satisfeito com o acesso remoto dos computadores dos colegas a quem chefia, sempre que pode, ele se aproveita da ausência dos que estão no serviço externo para abrir e bisbilhotar todas as pastas dos subordinados, alegando estar à procura de um documento antigo...
Ele parece não concordar com o que julga um privilégio - e sempre que a funcionária paraplégica se ausenta para as consultas e exames médicos, invade a garagem preparada com placa de sinalização e, tudo. E quando ela chega, tem que aguardar até que algum colega localize o sujeito, para que desocupe a sua vaga de estacionamento...
Sempre igual. Todo dia, sempre igual.
E as pequenas mudanças parecem ser as mais difíceis.