Engano Mortal

ENGANO MORTAL

Ao longo de toda a noite a chuva caiu sem cessar, raios e trovões alternavam suas atividades na imensidão do firmamento, as árvores contorciam e o vento uivava com ferocidade. Lá dentro do Casebre a escuridão ocupava todos os espaços, e o cheiro pelo adiantando estado de putrefação dos corpos exalava pelas janelas que aspira e respira a essência da mata encharcada . Bárbara e Orlando se conheceram a cinco anos em uma feira hippie de Belo Horizonte, ela recém formada em Jornalismo fazia um documentário sobre a grande atração da Capital, criada em 1969 por um grupo de artistas que sem espaço para mostrar seus trabalhos passaram a expor na Praça da Liberdade, porém encontraram certa dificuldade no início já que o Brasil sofria o golpe militar e o Ato Institucional numero 5 ( AI-5) se encontrava em pleno vigor, o que logo subentendeu para os militares antiartes que se tratava de uma aglomeração subversiva. Também as s autoridades municipais temendo um avanço do modernismo, preferiam que o espaço se ocupasse de amostras acadêmicas, o que foi contestado em 1971 pelo Governador Israel Pinheiro, que queria ver a volta do povo nas praças e assim se inicia a feira mesmo contra a vontade dos setores da prefeitura que não engoliam os hippies em local tão nobre.Com o aumento das visitações e o risco de uma degradação ambiental a feira é transferida para a Avenida Afonso Pena em 1991, e hoje possui mais de 3000 expositores. Além da questão histórica Bárbara fazia entrevistas com os frequentadores da feira, quando se deparou com Orlando um empresário no ramo de bijouterias formado em história pela UFMG, uma luz diferenciada brilhou nos olhos da Jornalista quando ouviu do entrevistado em poucos minutos, toda a trajetória do evento que ela demorara algum tempo para concluir. Coincidentemente estavam com entradas para assistir a tarde uma partida de futebol envolvendo o Cruzeiro Esporte Clube e Botafogo do Rio de Janeiro, pelo campeonato Brasileiro.Pularam juntos com os gols do time mineiro e Dormiram em um hotel da praça sete de setembro conhecida popularmente como praça 7. Entre os beijos quentes e as copulas insanas, confessaram suas frustrações amorosas e mais uma vez se identificaram, ela perdera o namorado que era policial militar em uma troca de tiros há mais ou menos dez anos, ele perdeu seu amor também na mesma época atropelada por um motorista embriagado que não prestou socorro.

Nascida há 32 anos atrás na cidade de Salinas, Bárbara passou grande parte da sua vida estudando em BH e participando da vida tubulenta da noite, Orlando há 42 anos nascia em Curvelo e a exemplo também se mudou para a Capital Mineira onde viveu por muito tempo. Entre Montes Claros e São Francisco no Norte de Minas o avô de Bárbara deixou como herança uma fazenda de construção colonial dos idos de 1820 herdado dos antepassados escavistas , algo misterioso se olhado com fantasia dos terrores de hollywood. Este local de refugio de bárbara serviu a partír de então de moradia dos dois enamorados. Cravado entre as serras e sob o colorido das paisagens o lugar era ao mesmo tempo encantado e inspirador de amores e poesias. Os dois decidiram deixar as buzinas e as depressões das cidade e adotaram a paz do campo. E passaram os dias como uma folha de um romance de Jorge Amado, acontecendo brasileiramente. Orlando dengava Bárbara e recebia na mesma dose o carinho, mas numa noite quando confessou que por coincidência do que ela havia dito um dia, trocara tiros com uns policiais quando havia se envolvido em uma briga de trânsito, sem saber do desfecho final pois fugira após balear alguém. A data e a forma como aconteceu só podia ser o que Bábara temia , será que estava alí o homem que tirou-lhe a felicidade? e que ao mesmo tempo lhe devolvera em um outro dia, como poderia estar acontecer aquilo com ela?, o coração disparado a boca seca e uma vertigem sem querer deixar explicito ela desconversa e o deixa abraçá-la, ainda que uma angustia forçava a distância. Ela muda o assunto e relembra uma bebedeira desta época de revolta, que a fez avançar o sinal vermelho e atropelar alguns pedestres, porém sem saber que havia vitimado uma delas, que poderia ser aquela que Orlando tanto amava. Ele se levantou e foi até a cozinha repentinamente pisando alto com a cabeça estalando sem direção, ela continuou deitada no sofá olhando o teto que vazava deixando a visão retroceder ao dia da morte do namorado, Orlando olhava pela janela uma paisagem sombria cheia de pessoas caídas no asfalto e sua namorada sangrando com um corte profundo na cabeça, seria Bárbara a assassina?. Abaixo da pia um frasco de raticida alerta para o cuidado da ingestão dos humanos, podendo ser mortal. Porém ignorando as intruções e com um enorme pesar da vida, Orlando escreve algumas linhas e ingere o liquido misturado ao suco que restou do Lanche. Na sala um estampido ecôa, e um tiro na cabeça interrompe a carreira da Jornalista pseudamente decepcionada, estas foram suas linhas finais. - Caro Orlando, não sei se te amo ou te odeio, naquela troca de tiros você matou o cara que eu amava, alguém que eu sonhava para desposar-me e viver eternamente em lua de mel, porém a vida me pregou uma peça e me apaixonei justamente por você que mais odiei. Preferi partir e deixá-lo livre para amar alguém que não vá ter rancores vingativos como eu. Adeus. Na cozinha Orlando com uma escrita trêmula também se despede : - Bárbara, em primeiro lugar perdoe-me pela fraqueza, aquela entre as pessoas que você atopelou embriagada e apaixonada pelo seu namorado , era o meu grande amor que me deixou orfão de tudo que eu possuia, foi a mulher que sonhei para envelhecer comigo e vivermos a eternidade . Não sei o que estou sentindo neste momento, mas o que meu coração pede é para se livrar desta angustia que acredito não ter fim de uma outra forma. Seja feliz e adeus!!. Dois anos depois o caso teve um outro desfecho, o policial namorado de Bárbara fora baleado em troca de tiros na Pedreira Prado Lopes, e apesar da mesma data o envolvimento de Orlando fora no Bairro de Lourdes, com fiscais da BHTRANS. A namorada de Orlando foi morta na avenida dos andradas perto do parque municipal, enquanto o acidente envolvendo Bárbara aconteceu na imediações da praça da estação.

Adilson Cardoso