No dos outros é refresco
O nosso problema sempre é maior que o dos outros, impressionante, nossa dor de cabeça é muito, muito pior que a perna fraturada do outro. A falta de um tipo de alimento, para nós, é mais necessário do que para alguns que nada tem para comer. Um mês com pouca chuva é uma catástrofe, não lembramos daqueles que passam anos sem ver uma gota sequer. Um pedaço de pão caído no assoalho limpo, já não serve, e aqueles que disputam grãos de arroz jogados na terra?
Somos hipócritas por natureza, primeiro fazemos nossas queixas, depois ouvimos as dos outros. Preocupamo-nos com o vento forte que bate em nossa casa bem estruturada, e os barracos de lona? A chuva forte que escorre por debaixo de nossa porta é muito mais danosa para nós que o metro e meio de água que invadiu a casa do vizinho. Um pequeno problema em nosso carro, como um pneu furado, deixa-nos transtornados. E aqueles que não têm e dificilmente terão um automóvel em toda a sua vida?
O trabalho que realizamos não é agradável, mas existem muitas profissões piores, e pior que isso, muitos não tem trabalho e dariam o pouco que tem para estarem em nosso lugar.
Confesso que ultimamente ando agindo grosseiramente com pessoas que chegam para mim queixando-se de alguma dor. De minha parte cheguei à conclusão que queixas devem ser dirigidas aos médicos, estes podem indicar a o remédio para o caso. Não estou mais admitindo ouvir ais dos outros, depois da quarta cirurgia na coluna que sofri.
Afinal não fujo à regra.