O PARAÍBA VAGAMUNDO, CLAUDIO E O RELÓGIO BRANQUINHO

Que história contaria?

Eu não lembrava de nenhuma, a molecada começou a achar que eu não sabia. Cláudio acalmou a todos, dizendo que eu precisava de um tempinho para encenar o que iria contar. Mentira! Ele me conhecia e sabia que eu estava nervoso, tinha saído de Cajazeiras e ido ao Uiraúna, para revê-lo, mas o que eu não sabia era que a minha fama de contador de histórias corria pelas calçadas, e Claudio tinha reunido aquele povo todo para me ouvir contar:

“Era uma vez..

Sim, era uma vez um Neguinho que morou na Paraíba e fez muitos amigos. Foram muitas as pessoas que cruzaram pela vida dele, mas nenhuma delas tinha a graça e maturidade desse moleque chamado Cláudio.

Os dois compartilharam uma grande amizade, mesmo morando em cidades diferentes. Bastava chegar o tempo das férias, para o Neguinho ouvir a voz do amigo no quintal do vizinho, era o Cláudio, que viera passar as férias novamente com a sua avó, a Dona Nininha.

Apesar das brigas das famílias, (o que esperar de vizinho?) os dois sempre permaneceram amigos, até o dia em que o neguinho viu que o amigo usava um relógio branquinho.

Ele sempre quisera um relógio como aquele, mas como era criança carente até de comida, sua família não podia bancar um desejo desses, e o relógio ficou só na lembrança, até aquele último dia no Uiraúna, onde ao se despedir de Cláudio, Neguinho notou que o seu amigo deixara o relógio branquinho em cima da estante.

Foi preciso um instante, para a ocasião fazer do Neguinho um... menino com um relógio branquinho.

Anos depois, os meninos cresceram e ao invés de cidades, estados os separavam. Porém, o Neguinho, agora adulto, nunca havia esquecido do que fez, e que nunca havia pedido desculpas ao amigo. Vai ver ele nem lembrava mais daquilo, mas a vida, sempre sábia, fez com que neguinho, por meio de umas dessas coincidências que não ocorrem por acaso, ouvisse a voz novamente do seu amigo.

- Neguinho ladrão, cadê meu branquinho? – era o Cláudio, seu amigo de infância, agora vivendo em São Paulo.

As nossas famílias tinham sido unidas pelos laços de casamento dos seus tios. Cláudio era agora uma espécie de primo do Neguinho; e o que era melhor, apesar de crescido, ainda tinha no olhar, a alma daquele mesmo menino brincalhão que protegia o amigo e com ele compartilhava histórias e alegrias.

- Claudio, desculpa! Eu era moleque – ele disse, desculpando-se - e você sabe, eu queria tanto aquele relógio.

- Esquece, Neguinho! Eu também te roubei um monte de gibis! – disse Claudio gargalhando. – E você não sabe o quanto aquelas revistinhas foram muito mais valiosas que aquele relógio barato.

- Seu filho de uma ...

- Olha!!! Não xinga a Dona Lêo, que eu sei onde mora a Dona Graça.

E os dois caíram na risada.

- Meu nome agora é Frank – disse o Neguinho crescido, para deboche do amigo que começou a dar risada.

- Que Frank que nada. Você sempre será o “meu” Neguinho!

E assim, entre piadas e coisas sérias, há mais de 25 anos, os dois mantêm uma amizade sólida, compartilhando as suas vidas, as suas tristezas e felicidades. São até padrinhos um do outro de casamento. E só não viveram felizes para sempre, porque a estória de ambos ainda continua, com muita aventura e drama, e é claro humor:

- Rapaz, é verdade mesmo aquele lance que a Eliana te trocou por um jumento?”