Realismo X Relativismo
Hoje peço licença à Filosofia. Marcar a ciência depende das transições que ocorrem nas concepções do homem sobre o mundo e as coisas do mundo. A mudança do modelo geocêntrico (centro do universo como sendo a terra) para o heliocêntrico (agora, o sol é o centro do sistema do universo) é um dos principais símbolos da passagem da ciência antiga para a moderna.
Essa ciência moderna veio contribuir, de certa forma, para relativização das coisas que atribuímos como verdadeiras. Nega, então, o dogmatismo (do grego dógma = uma opinião que é interpretada como verdade inquestionável), ou seja, o órganon (conjunto de textos aristotélicos) ou ainda a própria bíblia, que eram até a Idade Média considerados verdades absolutas.
Eis um choque: Relativismo X Realismo. Ambas são duas teorias acerca da realidade. No entanto, o realismo supõe que a realidade é uma dimensão objetiva, concreta e absoluta, ou seja, o realismo acredita no real, no que ali está, independente da interpretação humana ou do contexto social em que está incluído. O relativismo, por sua vez, defende a tese de que não existe uma realidade única e acabada, mas diversas realidades e o sentido dessas realidades dependem das relações históricas, dos espaços do homem, das culturas e sociedades, enfim, das interpretações que o homem faz através de sua vivência enquanto ser-humano.
O realismo pressupõe que as respostas são encontradas em uma escolha ou crença e é justamente essa escolha que se torna a verdade absoluta da vida de quem escolhe e mais, enxerga que uma pedra é uma pedra independente da subjetividade humana. Por exemplo, se algum dia a humanidade fosse erradicada da terra, o mundo cultural (arte, religiões, política) poderia também desaparecer, mas o mundo objetivo (pedras, árvores ou prédios) continuaria lá, do mesmo jeito que estava antes do aparecimento do homem.
No relativismo, não existe uma única “receita” para verificar a validade das situações. É preciso levar em conta o contexto social ao qual está se referindo. Para o relativismo só haverá mundo se também existirem seres capazes de compreendê-lo.
A lei da gravidade para um realista é sempre a mesma independente da situação ou do lugar que se refere, de um lado ou do outro do mundo. Essa mesma lei da gravidade, para um relativista, se trata não somente de um elemento da natureza, mas de uma forma que o homem encontrou para explicá-la, atribuindo resultados que podem até ser ignorados no futuro.
É claro que as duas teorias apresentam vantagens e desvantagens, e é preciso se adequar a isso quando se escolhe um caminho ou outro.
No realismo, dá-se a impressão que se está seguro, e a verdade sempre estará lá para nos esperar e ser resposta a um questionamento ou dúvida, ou ainda, será como uma fortaleza. Parece que se está dentro de uma redoma de vidro e a segurança é certa. No relativismo, o mundo, às vezes e por um determinado tempo, se torna vago, solto, inadequado e a pessoa perde toda a segurança que antes tinha (se é que um dia teve) sobre as questões que acha importante fazer sobre o mundo e a vida. Mas as coisas vão se encaixando, vão se rumando para qualquer lugar e é possível ver o mundo em uma perspectiva filosófica. Não encostar o rosto na parede para fazer parte do mundo, mas ficar a uma distância do concreto para enxergar a vastidão da qual ele mesmo é responsável e proporciona. O filósofo é aquele que deixa de participar da festa para ver, enxergar e compreender a festa. É isso profundo. Afinal, as experiências passam, as observações não (às vezes).
Desejo falar mais, um outro dia.
Alexandre Ferraz.
Fonte: "Explicando a Filosofia com Arte”. Charles Feitosa.