A Camisetinha Sexy
Saio do banho... Capricho nos cremes, massageando suavemente a pele ainda úmida. Escolho uma calcinha sexy, a saia que valoriza minhas pernas... Olho a gaveta das camisetas. Pego a vermelha. Visto. Linda! Perfeita! Sabe aquela roupa que realça tudo o que merece destaque, esconde tudo o que deve ser disfarçado? É esta.
Olho-me no espelho. Nossa! Os seios ganham volume, pressionados pela malha encorpada, saltando oferecidos, enquanto os bicos salientes parecem querer romper o tecido maleável. A cintura fina fica ainda mais tentadora, suavemente marcada... o colo bronzeado num delicioso contraste com o vermelho da blusinha.
Quase oito anos se passaram desde que a comprei. Penso em como mudei, desde então... Meu corpo, meu jeito de lidar com ele, minha fé, minhas esperanças... não sou mais aquela pessoa ingênua que se deixou seduzir por ele, suas promessas enganadoras, as ilusões de um futuro melhor... todas falsas.
Ele é igual a todos os outros, farinha do mesmo saco... Tão logo conseguiu o que queria, abandonou todas as suas convicções e mostrou-se igual, se não pior que os outros, pela forma mesquinha e vil como expôs sua real essência. Pensar o quanto defendi este amor, quando muitos me diziam errada, nas loucuras que fiz por ele, de gritar seu nome a plenos pulmões, cantar nossas músicas sentada na janela aberta do carro em movimento...
Troco a camiseta. Não posso ir às ruas vestida desse jeito. A camisetinha realmente me veste como uma luva, mas não posso mais ostentar no peito a marca da minha desilusão. Enquanto não encontrar um jeito de arrancar este bordado da estrela do PT, esta peça do meu vestuário mais sensual continuará esperando na gaveta.
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Brincadeiras à parte, o mais triste disso tudo, é que, ao pensar em meu desencanto político e moral com o PT, também não vislumbro qualquer outra alternativa...