Lula em Itabaiana
No ano de 1984, na cidade de Itabaiana, um grupo de rapazes tentava estruturar o recém criado Partido dos Trabalhadores, enfrentando a truculência da ditadura, já combalida mas ainda atuante, e a indiferença, o preconceito e falta de educação política de uma população anestesiada por décadas de alienação. Registro memória da visita do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à terra de Sivuca, de passagem pela Paraíba. Meu irmão, Sósthenes Costa, era candidato a deputado pelo PT, e acabou por desviar Lula de sua rota para uma ligeira reunião com os companheiros Roberto Palhano, Joacir Avelino, João Costa, João Batista, Pedro Lourenço, Sanderli Silva e Jairo (in memorian), que eram os próceres do PT por aqui.
O companheiro Lula, demonstrando a simplicidade dos verdadeiros líderes, conversou sobre a política local e pediu pra “tomar uma Pitu”. Fomos a um bar no centro da cidade, que hoje não existe mais, onde tomamos várias “Pitu” e algumas cervejinhas. O dono do bar, reconhecendo o “Lula do PT”, aproveitou para cobrar muito além da conta.
Lula falou de suas viagens por esse Brasil velho, contou dos brasis que estavam acontecendo e ninguém dava notícia, e que só “precisava de atenção e esforço cívico para despontar”. Demonstrava confiança nesta nação, acreditando no seu partido que teria o destino de, um dia, promover a transformação social. O homem mostrava realmente carisma, transparecendo sua experiência original de vida. É dessas pessoas especiais que nos legam sua força e nos abrem portas.
Eu e meia dúzia de sonhadores acreditávamos no PT de Lula, mas depois veio a desilusão: o PT nunca saiu dos quadros do capitalismo, jamais conseguiu definir com clareza sua ideologia, entrou na onda do eleitoralismo, o poder pelo poder, e naufragou enquanto partido de massa. Eu e meus companheiros caímos fora do PT anos depois, mas ficou a lembrança daquele encontro com Lula em Itabaiana, na mesa do bar “Teve Jeito”. Em certa hora, Lula começou a falar de futebol e perguntou quais os times por quem a gente torcia em São Paulo. Não havia nenhum corintiano no grupo, e ele, exibindo orgulhoso a camiseta do seu Corinthians por baixo da camisa: “Ninguém é perfeito!”.