Nos corredores de um ônibus...
Não me lembro bem onde ouvi isso, a frase não saia da cabeça, ficava como gangorra em parque de diversões, quando amontoado por crianças este; sobe e desce; vai e volta, mas não sai do lugar, assim, era meu lento pensamento naquela madrugada a bordo daquele imponente bigode varrendo as estradas, era o que parecia, o lado de fora escuro, desde a saída, pois quando entreguei meu bilhetinho azul, já não era mais o dia que eu passei, mas a madrugada de mais um que iria passar. Como fila indiana, todos indo no caminho da roça, e o cantador de quadrilha ali disfarçado de motorista, recebia e picotava dividindo as folhinhas. Degraus acima, olhar fitado nos numerozinhos, espreitando a marca que se identificasse com o bordão do meu bilhete. Lá estava vazio a minha espera, e friso o ermo, pois certas horas tem, sempre um intrometido por lá, mas, não era o momento. Bolsa por sobre a cabeça, uma ginástica para chegar no cantinho, uma aula de musculação para reclinar a cadeira, e tudo quase pronto, sim, quase, pois faltava um bando que lá fora se aglutinava tomar o rumo e engolir-se pela escada acima. Um pequeno atraso de longos minutos, e tudo certo. Como vagões, pois eram três possantes, partiram abrindo espaço pela noite adentro, e madrugada a fora... O chacoalhar é normal, trepidação causada pelos buracos tapados do asfalto. Bocejos aos montes, um choro quase corriqueiro de crianças, alguns sussurros perdidos, mas com o caminhar dos ponteiros da hora, o silêncio era o passageiro central. Saltando de um lugar ao outro, os irmãos de empresa iam se distanciando, e só mesmo na parada noturna voltavam a se encontrar. Alguns minutos barulhentos pelas filas do guichê, estômagos acalmados, e a matilha seguia seu rumo. A madrugada começava há buscar o dia, e escorregando pelos tapetes pretos dos lugarejos, iam de encontro ao destino final. Para uns, pois o meu terminava numa origem de outro e a história não mudava, bilhete num furto de uso do caixeiro; escalando o acesso das poltronas como de cinema; gabarito conferido com o indicado; lugar assumido, e estava eu ali mais uma vez, perdido no meio do pensamento, esperando o destino se concretizar, e pensando o que mesmo?! Já até esqueci, mas nas muitas viagens pelo “word” da vida, acabo me lembrando, da tal frase que não me saía da cabeça...
Junior – Um sonhador