O QUE ACONTECE QUANDO A ESPERA VEM NOS VISITAR
A espera é um dor que não dói e não descansa nunca,
é como se fosse uma estrada que sempre terá chão pela frente,
uma ladainha que recomeça sempre depois do final.
É uma voz que fica repetindo sempre o mesmo fardo nos nossos ouvidos, um carrasco que está para dar deu golpe e, na hora, volta para posição inicial,
uma porta que, quando se abre, revela sempre a próxima porta.
A espera é uma gestação que nunca terá seu parto,
como se fosse um retirante que parte sem saber para onde ir,
como se fosse um barbante enrolado em si mesmo para sempre.
Ela tem muitos disfarces, muitas garras, muitas falas, muitas malas,
conhece melhor do que a gente todos as nossas tampas, todos os nossos funis, todos os nossos rasgos, engasgos e soluços.
Quando menos esperamos, ela desce do seu fosso e vem nos untar a alma com aquele sabor esquisito, com aquele gosto de comida queimada, de fuligem misturada com um amargo por-do-sol.
Até que um dia, sem avisar nem despedir, ela faz as suas malas e segue seu caminho até pousar no próximo colo que a merecer.
E a gente fica com aquela cara sem graça de quem caiu do cavalo, mesmo sem entender isso, mesmo sem admitir isso.
E ficaremos assim até o dia em que ela decidir botar de novo seus ovos no nosso ninho, ou nos impregnar de novo com o seu suor mais íngreme, mais descabelado.
E assim vamos seguindo a nossa vida.