O vendedor de cachorro-quente
Encontro-me na Liberdade. Fervor de um lugar absolutamente denso em seu espaço, onde o caminhar – atividade normal humana – era dificultado pelo emaranhamento sutil de pessoas (falo sutil pois me sentia ausente a esse espaço). Nesse calor intenso, de corpos celestes, parei frente uma barraca, onde vendia cachorro-quente. Este fato simplório poderá, ao fim desse relato, parecer pouca coisa – ou nada. Se mudarmos, porém, a direção do papel, veremos de outra forma. Era um senhor o vendedor; deveria ter seus setenta anos; apresentava fala nítida. Atrás dele, e de sua barraca, havia uma porta. A princípio, desviei minha atenção desse fato; mas errei. Aquela não era uma simples porta; era, pois, a porta da esperança. Lá se encontravam duas crianças e um outro senhor. Como encontrava-me perto, pude ver a simplicidade dos móveis e da própria casa, entretanto não a vi vazia.Havia ali uma centelha de vida que somente a sensibilidade experimentada poderia alcançar; desisti, então, de racionalizar aquilo. Peguei meu cachorro-quente; parti. Notável é o fato de o bairro da Liberdade se fazer de uma máscara anacrônica e desinteressante. Percebi, todavia, que essa máscara encobria o objeto, e não os sujeitos ali presentes: esses são os que, com seu sorriso, me cativaram, além de encherem meu coração de um sentimento. Esse sentimento, não apresento a vocês.