Latinis Arrasus – Calouros de Letras

"Mamãe, mamãe!

Olha aqui sua filha!

Ego latinis arrasus!”

Que maravilha é a faculdade! Primeiro semestre do curso de letras e o que encontramos na grade curricular? Latim! A língua morta. Que sensação! Já chego em casa exasperada: “Mamãe, mamãe, segura essa menina que agora ela ta aprendendo latim! Mamãe, mamãe, minha bis! Quero toda preta com farol neon”.

No começo é uma coisa linda: conhecer a história da língua, aprender alguns costumes antigos envolvendo romanos, gregos e povos famosíssimos! Em qualquer outra matéria reclamaríamos de tirar cópia de duas folhinhas de exercício. Mas não latim! Chegamos a ficar felizes quando a professora anuncia que tem uma pequena apostila de 500 páginas para tirarmos cópia.

As aulas em andamento e, com elas, aparecem todos os tipos de “ÕES” que sequer passa pela sua cabeça que uma palavra poderia ter (tantos): declinações, conjugações, terminações, condições... Mas não é o suficiente para nos derrotar! Latim ainda é belo. “Mamãe, mamãe! Eu to estudando, já comprou minha moto? Cadê minha bis?”.

Ok, calourada. Rapadura é doce, mas num é mole não. Dá-lhe estudar pra primeira prova. Mas prova, mamãe? Prova o quê, todo calouro é bom nisso! A essa altura do campeonato, ele está tão fascinado com o que está aprendendo que já distribuiu latim para todo lado: tem no perfil do Orkut, na frase do MSN, no status do Twitter, no blog e no fotoblog, na agenda telefônica, na porta do banheiro do bloco onde estuda... Nada nem ninguém podem escapar do calouro de letras. É inteligente demais para esses reles mortais que mal falam o português comum.

Ele estudou todos os “ÕES”. Consegue traduzir frases inteiras de latim para português, chegou a passar algumas de português para latim! Sabe quando usar cada caso, cada palavra, sabe conjugar! Ele vai arrasar na prova! Mater, mater! Ego latinis arrasus!

Na prova, caiu um texto de 20 linhas sobre a tal de Diana, uma deusa romana. VINTE LINHAS! E ele se achando porque conseguia declinar e traduzir frases. Cada linha era uma pancada no cérebro que o deixava atordoado. Ele vai para casa triste, deprimido... Tira as frases do MSN, do Orkut, do Twitter e dos endereços eletrônicos. Até passou corretivo na porta daquele banheiro!

_Mamãe, mamãe! Ahhhh, mamãe! Devolve a bis pra loja, de hoje em diante só ando a pé!