Em estado de paixão

Eu tive uma amiga que vivia em estado de eterna paixão. Sonhava com o amor da vez dia e noite. Imaginava o que ele estaria fazendo naquele exato momento, se estava na cozinha de casa saboreando um doce, ou quem sabe um bolo fofo de milho, ou quem sabe um arroz- de- leite? Ficava horas pensando no que diria a ele no primeiro encontro: ensaiava e repetia para mim todas as falas, as trocas de olhares, o aperto firme e apaixonado nas mãos. Ah! e os beijos! Uma infinidade! Todos ardentes e saudosos do tempo perdido. Ela pensava na roupa em que usaria para ficar sexy e elegante. Implorava a minha ajuda, pois não conseguia se decidir.

Pedia-me opiniões impossíveis. Será que ele gostava dela? Será que a paixão era da mesma intensidade? Será que ele já fora apaixonado por outra? Por fim, pedia-me que eu bancasse a detetive e fosse à busca das respostas custe o que custar.

Nunca mais a vi. Jamais a esqueci. Nem de seus amantes imaginários. Dos seus sonhos e das ilusões que espero não tenham sido perdidas. Bons tempos aqueles no colégio das freiras em Soledade.

PS. Aqui uma homenagem ao brilhante Ilusões Perdidas, de Honoré de Balzac (1799-1850) trata do início do jornalismo na França.

16.09.08