- Teixeirinha -
(De autoria do escritor Napoleão Valadares. Publicada no livro - Passagem da Minha Aldeia).
Naquele tempo não se aceitava esse negócio de amor livre. Estou falando do século dezenove. Faça ideia. A moça saiu de Caetité, Bahia, e foi para Formosa, Goiás, onde passou a viver com o chefão do lugar, sem casar. Quando o irmão soube, montou num burro em Caetité e foi bater lá. Nas cercanias de Formosa, tomou informações sobre onde morava o tal sujeito que estava vivendo com sua irmã. Mas quem informou já correu e avisou ao chefão que chegava um forasteiro assim-assim, que o procurava.
Chegava Manuel Antônio Teixeira, conhecido como Teixeirinha, meu trisavô, jogador de espada, que naquele tempo existia esse esporte. Pois foi Teixeirinha chegar e os dois trançarem nas espadas, porque o chefão de Formosa também era um esgrimista daqueles...Baralharam o ferro no trape-zape. Golpe daqui, golpe dali, tudo aparado, rebatido, escorado, revidado. Resultado foi que Teixeirinha acabou cortando o pescoço do tal cunhado.
Voltou para Caetité. Lá, soube que a irmã tinha mandado dois jagunços alcançá-lo na estrada para matar e tirar as orelhas. E que esses jagunços, não o alcançando, tinham matado outro sujeito e levado as orelhas para a mandante.
Montou no mesmo burro em Caetité e foi novamente a Formosa. Quando a irmã o viu, aprontou uma gritaria, mas Teixeirinha foi falando: Cale a boca. Não vou fazer nada com você. Só vim pra dizer que você pode tomar o dinheiro que deu aos jagunços, porque as minhas orelhas uma está aqui e a outra está aqui.
E voltou para Caetité.
Pouco depois, em 1869, Teixeirinha mudou-se com a família para Garapuava. Tinha, com sua mulher, Ursulina Maria de Jesus, os filhos João, Daniel, Heliodoro (este meu bisavô), Hermelinda e Isabel.
Não se sabe a estrada que ligava Caetité a Formosa naquele tempo. Mas estive olhando no mapa, régua em cima, e vi que em linha reta são umas noventa léguas. Só para dizer onde estavam as orelhas.