LÚGUBRE ANIVERSÁRIO ("A melancolia é a melhor droga!" — Gabriel Hauck)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2009

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Odiei mais um aniversário em minha vida, desta vez, estava sentido o desconforto da hemorroidectomia aberta. em meio à dor e ao sofrimento; era dia seis de julho de 2007. Falo de meu ódio, mas não significa que não aceito as intempéries da vida. Recebo-as como uma boa ocasião para avaliar o que a vida está sendo para mim, e o que mereço dela. Realmente eu estava aborrecido com a inexorável aproximação desta data comemorativa e lamentei o tempo que foge de meu alcance. Apesar de que o considero como um trampolim para novas aventuras; todavia, ainda tenho certo receio dele.

Há alguns anos, li um pequeno recorte que dizia o seguinte: “A vida é um rebolo, e se desgasta um homem ou lhe dá polimento depende do material de que ele se compõe”. Quando ainda criança, eu aguardava ansiosamente a chegada de cada aniversário consecutivo. À medida que fui envelhecendo e que o tempo passa me dá uma ideia mais real de minhas atitudes para com a própria vida. Agora faço minhas as palavras de Jó: "Maldito seja o dia em que eu nasci! Maldita seja a noite em que eu vim ao mundo! (...) Que aquela noite, seja escura e fria! Tomara que ela não seja contada entre os dias do ano! Mas seja sempre fria e triste! Tomara que ninguém mais nasça naquela noite! Roguem pragas e maldições sobre ela as pessoas que conhecem palavras secretas e misteriosas para amaldiçoar. Que todas as estrelas se apaguem nessa noite! Tomara que ela espere a luz da manhã, mas o sol não apareça no horizonte! Maldita seja essa noite que não me impediu de nascer e me obrigou a passar por todo este sofrimento!”(Jó 3:2-10 BV). Obviamente, ele tinha motivo para falar dessa maneira, pois perdera todos os seus bens, os filhos, a saúde e, segundo parecia, também o amor e o cuidado da esposa. Em tudo isso, porém, tive meu dissabor espelhado, quando no momento em que mais precisei de ajuda para me confortar, contei apenas com a companhia da ex-esposa que me tratou meramente como ex, a cada movimento seu no sentido de cumprir o dever que não era mais seu, eu o recebia como um arranhão na feria da alma: cirurgia divina que ainda não cicatrizou. Assim como o movimento do bolo fecal, atendendo ao esforço de um organismo debilitado, em direção às feridas expostas de um reto traumatizado. É! Mas, difícil mesmo, é a primeira defecação após a cirurgia, depois se acostuma!

Porém, enquanto a tranquilidade e a alegria não me vêm, recebo a dor, o sofrimento e a solidão como atributos necessários para minha expressão poética.

Pelo menos, na vida hipócrita, posso contar com os amigos.

E outro vantagem, meu sofrimento ativa minha memória e cria pontos de restauração em meu sistema vital.