O DIA EM QUE "MEU" PSICANALISTA SUMIU

Ele me atendeu antes do Natal (2005), na semana seguinte não poderia me atender, nem na semana que seguiu a anterior, desde então meu psicanalista sumiu. Claro teve seus motivos, não sei quais foram ou sei, mas ele sumiu.

A princípio não pensei como psicóloga, mas apenas como uma paciente, que sente e como sente!!

Não compreendi seu sumiço por pior que pudesse ser o motivo e que deixasse qualquer ser humano “fora do ar”.

Senti raiva: “Porque justamente quando ele me atendia?” Sem pensar que ele também atendia outros e que estes também poderiam estar sentindo tantas coisas...

Pensava: “Será que ele não lembra que deixou uma paciente ainda muito dependente dele?”.

Não entendia por que: “Se ele não tem condições de dizer alguma coisa, porque não pede que outra pessoa próxima a ele ligue para sua paciente e pelo menos dê alguma pista de sua vida ou de que rumo ele me dará no sentido de: “Vai voltar a me atender em algum dia ou não vai mais poder.”

Começo a perceber que preciso demais da análise estou sentindo algumas coisas que já haviam melhorado com ela. Mas nada do meu psicanalista.

Então penso: “Imagine começar tudo de novo com outro profissional. Ai! Não me sinto psicologicamente pronta para isso, mesmo que o meu psicanalista – por impossibilidade dele – repasse a outro sua análise sobre mim, não é a mesma coisa, porque para mim não é re-começar, é começar mesmo, é esse o sentimento.

Outro psicanalista ou psicólogo, outro ser e eu com minhas coisas... minhas bagagens e ele com as dele...

E o que é pior! Eu só me vejo falando de minhas angústias com um profissional do sexo masculino, me sinto mais a vontade, mais segura. Freud explica!

O dia em que meu psicanalista sumiu, foi apenas o dia, sim, pois qualquer um pode sumir assim da nossa vida. Tudo pode acontecer de uma hora para outra. É a vida.

Contudo eu nunca tinha pensado na possibilidade do meu psicanalista sumir, mas ele sumiu. E que se danem seus pacientes, para ele não se danar.

E pensei: “Posso não entender o sumiço do meu psicanalista, mas entendo (estou agora pensando como psicóloga e não como paciente) e me colocando no lugar dele: “Se foi algo grave ele necessita de um tempo. Não sei qual é esse tempo, isso pode ser muito individual.”

Só não sei se posso esperar. Também não estou tão bem, meus sintomas retornam lentamente, estou “me segurando.” Que coisa, hein! Cada um com suas dores, antes fossem pudores.

Porém eu preciso aprender a ter maior controle sobre minhas emoções e a seguir só, nas minhas angústias, quando preciso for. Pois a pergunta urge: “E se ele tivesse morrido?”.

Patrícia Carvalho de Andrade – janeiro de 2006

Patricia Carvalho
Enviado por Patricia Carvalho em 09/05/2009
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