Dilúvio da Urbanidade
Pergunto-me sempre, de mim para mim mesmo, qual é o tamanho do preço que havemos de pagar por sermos seres urbanos? Não refiro ao fato da nossa humanidade – Que se trataria à moral de cada um de nós – e sim do de morarmos em meio à civilização contemporânea. Com certeza o surgimento da civilização, das grandes sociedades foi um verdadeiro marco na historia do homem – Mas a que preço?
Nós por suposto, podemos ainda não termos alcançado o limiar do que se trata de sociedade urbana. Sendo amplamente voltada ao homem como um grande todo; cuidando do bem estar de todos os quais habitam as cidades e não apenas àqueles que foram previamente escolhidos, desta vez não por Deus, mas pelo o que possuem.
Se eles teem uma determinada quantidade de bens, dar-los-emos tratamento especial.
E quanto aos outro? Estes outros os quais os somos, estes que fiquem com as migalhas dos primeiros...
Todavia, voltamo-nos talvez por ironia do acaso, ou quem sabe mesmo obra do Pai, a um unificador de águas – Em ambos os casos. Tendo se chuva, sofrem-se todos; sem descriminação de classe, cultura, cor ou religião. E a posse, bradará algum.
Estes, por obra dos céus – E que Céus benditos! – sofrem juntos com os renegados.
É o que se dá por agora. Nas grandes áreas da urbanidade, não importando de que países forem, sejam elas da área abastada do globo, ou da sua parte renegada, tendo desastre natural, sofrem-se todos, em iguais proporções.
Não sejamos tolos enfim, no esquecer de relatar como se dão os sucessos; os mais desfavorecidos perdem tudo o que possuem no caso de um desabamento – Perda de casa, roupas, documentos, vidas inteiras... – Isso se não haverem mortos. E o rico?
Este por vontade celeste, é acometido nas estradas, ficando ilhado e deixado à boa vontade das marés de esgoto; ou tendo um futuro melhor, sendo salvo por algum pobre o qual pela vontade do destino passar, se compungir, e salva-lo – Santas mãos divinas!
Em meio a uma estrada alagada, se tem a real noção de como isso se dá.
Aqueles os quais possuem pouco, todos espremidos dentro de um ônibus apertado tal sardinhas em uma lata, olham com semblante quase em jubilo no ver os carros ricos, possantes, potentes e imensamente desnecessários à vida na cidade, atolarem presos aos buracos imundos e às águas barrentas infestadas de doenças tépidas, repugnantes, suplicantes a vinda d’uma mão amiga de um bombeiro, ou de um bom ser o qual ali trespassar.
Santas ironias as quais se dão na nossa urbanidade. Vendo acontecimentos como estes, tangendo-os com as próprias mãos é que finalmente se pode deixar de acreditá-los através das lentes audazes, sórdidas, cristalinas.
E somente assim se para no pensar se este é um preço alto de mais a pagar, para continuarmos nestas trilhas tortuosas sem volta; talvez seja este o modo o qual Deus encontra no querer revelar ao homem a verdade, de trazê-la dos véus da escuridão telúrica ao raiares divinos da realidade.
Dizendo-nos em uníssono, que se continuarmos nestas trilhas, delas não sairemos com vida... Portanto unamo-nos, e mudemos.