A MÁGICA DE SER MÃE

Eu dizia que não queria ser mãe nunca. Não queria abrir mão de minha liberdade. Não queria que nada me prendesse e absorvesse. Não queria ser obrigada a deixar de fazer nada por um bebê, que chorasse a noite, que não soubesse onde fazer suas próprias necessidades e nem soubesse se suprir das mesmas...

- Ai, um bebê, ser tão dependente!! Nem mooortaaa!!! Eu não! Eu quero ir e vir, na hora que eu quiser. Eu quero viajar muito, passear muito! O mundo já ta entupido de gente.

Me casei com este propósito e esta combinação:

- Não quero ter filhos!

Passaram-se cinco anos.

Acordei me sentindo mal, enjoada, esquisita. Como já havia tido problemas com a vesícula mal-formada, pensei logo que era ela. Exames e mais exames e nada. Meu gineco me pediu o teste de gravidez e eu, indignada, respondi que não precisava...

- Ta louco?? Claro que não é gravidez... Deus me livre!!! O sangue de Jesus tem poder!!! - respondi em toda minha convicção.

Mas, seguindo a recomendação, fiz o teste. Claro que fiquei ansiosa... Tem jeito de não ficar?!

Acordei.

Fui ao laboratório.

Me identifiquei.

Peguei o papel dobrado e lacrado.

Abri...(aaaaaai.........o que me reservava aquele papel?.........)

Lá estava aquela “cegoinha” voando com um bebê pendurado no bico.

Resultado : POSITIVO.

Sempre fui aplicada e comportada na escola. Estudei em colégio de freiras. No mesmo que minha mãe. Gostava de jogar pingue-pongue e queimada. Sempre que alguém tomava uma bolada e não conseguia segurar a bola, a gente gritava em coro :

- Bem feito, é isto que dá ser metida a agarrarrrrrrrrrrrrr.... (rs)

Minha amiga encapetada, e pessoas “boazinhas” sempre gostam de tê-las por perto para culpar pelo que não conseguem fazer sozinhas, levou um garrafão de vinho para o colégio escondeu perto da mesa de pingue-pongue. Na hora do recreio ela, eu e mais umas quatro bebemos todo o vinho... 12 anos de idade as seis... Aula de francês no próximo horário. Subimos com as bochechas vermelhas e rindo sem controle... Não dava pra controlar! Juro que tentava parecer o mais normal que podia... Não conseguia... Não sabia disto... E o cheiro do álcool? Não contávamos com isto. Acabamos na diretoria de frente para irmã Lúcia. Irmã Lúcia, prima de minha mãe??? Não! Tudo menos isto.

Pela primeira vez, acabei de castigo, de pé, com o rosto na quina da parede por horas... Senti tanta vergonha!... Quis sumir dali, morrer, sei lá, pra sair daquela situação vergonhosa até morrer eu toparia. Eu, uma filha-irmã-sobrinha-afilhada-vizinha-aluna exemplo, com a cara na parede por estar alcoolizada no colégio?? Era demais pra que eu conseguisse ser a mesma algum dia. Me sentia vergonhosamente marcada pra sempre com aquela punição justa.

Justa. Este era o problema...

Pensei em todas as possibilidades e, sem saída, pela primeira vez, descobri como sair das situações assustadoras da melhor forma. Descobri como não ficar onde estava insuportável de estar... Onde não me davam chance de orientação, diálogo e perdões. Imaginariamente, furei um buraquinho na quina daquela parede e saí dali :) !!! Fechei os olhos e fui para onde era bom. Voei e me perdoei por aquela inconseqüência. Não faria mais. Pelo menos aquilo, até ir aprendendo sobre tudo. Eu era apenas uma pessoa em crescimento. Não merecia o calabouço, sem chicletes, sem revistas em quadrinhos, sem assistir meus desenhos animados favoritos por um mês!!

... Pelo buraquinho na parede aprendi a me dar as chances que não me davam, aprendi que existia um lugar dentro de mim e que nele ninguém podia entrar... Que este lugar era bom e que nele habitavam perdões, conciliações e meus sonhos.

Aprendera uma das mágicas da vida!

Com o resultado do laboratório nas mãos aconteceu o imprevisível e inesperado. A maternidade se mostrou... E em mim!

Eu não estava brava, revoltada, pensando em aborto, nem assustada... Eu estava feliz!!! Eu me sentia nas nuvens e acariciava minha barriga com um carinho imenso... eu já amava aquela pessoa que estava ali dentro... Eu me sentia especial... Eu sentia o milagre da vida se realizando... E em mim!!

Eu me sentia e eu me sentia e eu me sentia... MÃE!!!!!!!!!...

E era hora de aprender sobre mais uma mágica da vida. E nesta não cabiam fugas. Eu não precisava do buraquinho na parede :)

- MÃE, que bom que você soube esperar por este momento na minha vida, porque daí eu entendi você profundamente... Eu repensei a sua história com seis filhos... Eu alcancei seu esforço, suas lutas. As cotidiana e as internas... Eu alcancei sua generosidade, sua incondicionalidade! ...E eu te amei profundamente!!

MÃE, obrigada por seu amor de mãe! Ele foi e é o meu abrigo mais sereno.

GLAUCIA TASSIS
Enviado por GLAUCIA TASSIS em 09/05/2009
Código do texto: T1584488
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