PARA A MOÇA QUE TORCEU O PÉ

PARA A MOÇA QUE TORCEU O PÉ.

Marília L. Paixão

Olha, eu não sei escrever carta, mas minha dona falou que era para eu te escrever. Como um dia eu gostaria de escrever como ela, vai tipo crônica mesmo, pode ser?! Ela está comendo um macarrão integral com frango ao molho de tomate e alho e eu vou escrever rápido a tempo de pedir a ela um pouco de coca-cola. Como você chama mesmo?! Eu sou o Dagger!

Nasci na porta da casa da minha dona. Ela me cria desde então e eu tenho tudo que um sapo poderia sonhar, inclusive, sonho. Meu nome todo é Dagger Lor L. Paixão. Dagger ela copiou de um filme americano e Lor fui eu mesmo quem escolhi, eu tirei de uma flor. Eu disse a ela que eu queria chamar flor, mas ela disse que flor era feminino e mandou-me tirar o F. Na ocasião muitos comentaram que Lor era de lorde e eu até fiquei bem satisfeito e orgulhoso do meu nome. Eu amo o meu nome. Você gosta do seu?

Eu acabei de sair de um castigo e sou o sapo mais feliz deste mundo. Ela diz que eu sou um bom sapinho e não preciso ser perfeito, mas se eu erro feio o castigo é certeiro! Mas ela sempre diz que os castigos são bons, pois eu volto deles mais sábio e mais compreensível. Eu entendo rápido que uma banana é uma banana e que uma laranja é uma laranja. Já sei também que não me vale conhecer nenhum país sem ela. Eu prefiro que ela me dê castigo que me dê abandono. Eu troco o mundo inteiro pelo meu cantinho na página dela. Você está gostando do meu jeito de escrever?

Sabia que eu tenho mais amigos passarinhos que amigos sapos?! Uns tem ciúmes de mim e outros têm inveja por que eu não sou tratado como eles são. Eu recebo uma educação especial dada pela minha dona. Eu reconheço que eu faço um monte de coisas que eles não saberiam fazer e por isso que eu morro de paixão por ela. Eu sei até tomar café na xícara. Sei fazer poemas nas movimentações dá água do rio e lá em casa eu sou um sapinho rei com histórias e tudo.

Se eu parar este texto aqui você fica satisfeita? Bom, não posso parar assim, pois minha dona irá dizer que eu teria que me despedir. Eu gosto de ter amigos gente e vou me despedir sendo seu amigo, viu?! Se você gostar muito da minha dona, você poderá ser minha amiga também. A gente só gosta de gente inteligente. Eu tento imitá-la nas maiores coisas e nas menores ela me ajuda.

Sabia que cada castigo é cheio de aprendizagem?! É... Mas eu não gosto de ficar de castigo não! Quando eu estou de castigo eu perco todas as histórias. E eu não gosto de perder nenhuma. Quanto mais eu leio, mais eu aprendo. Um dia ainda vou parar em capas de revistas. Eu sou um sapo que tenho sonhos. É verdade que você torceu o pé porque pensou que tinha me visto?!

O tanto que eu tenho de feinho eu tenho de bonzinho e por isso eu pareço mais bonito que feio. Mas eu quero mesmo é ser inteligente, Maria Olímpia! Se a minha dona deixasse eu dormiria na beira da cama dela. Mas como ela não deixa, eu vou aprendendo é aos pouquinhos. Ela diz que sapo inteligente também tem que saber tudo da mata. E que por lá tenho que aprender muitas coisas sozinho, sem interferência humana. Ela diz que assim eu posso até ficar mais inteligente que muitos seres humanos. Falou até que eu vou ser muito mais inteligente que ela quando eu crescer.

Eu procuro sempre fazer tudo que minha dona me diz, menos sair das histórias dela. Eu adoro as histórias, adoro ela e eu. Agora fique com o good bye do mais novo amigo seu.

Dagger Lor L. Paixão.

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Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 09/05/2009
Reeditado em 09/05/2009
Código do texto: T1584061
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