AMOR: REFLEXÕES DESSINTERESSANTES

A presente meditação fora composta por Frei Flávio e Ramires Karamázov.

Há alguns temas na filosofia que nunca chegarão a uma conclusão definitiva, diria numa conclusão provisória que com o tempo poderá ser aprofundada. Pois bem, um destes temas é o Amor.

Na Língua Portuguesa do Brasil, há somente uma palavra para amor, para descrever as nossas preferências, nossos amigos e paixões, tais como: amo futebol; amo sorvete de flocos; amo ler; amo aquela música; amo aquele cantor e/ou cantora; morro de amor e faço amor assim, colocamos tudo no mesmo saco, pessoas, frutas, objetos.

A língua grega é em muitos aspectos a língua mais precisa, mais exata que a nossa, porque, nesse sentido, o português é como um sorvete napolitano, no qual colocamos todos os sabores em um só recipiente ou palavra. Mas os gregos realmente tinham uma palavra para cada sabor ou sentido da palavra amor, eles usavam eros, phileo e águape.

Eros é a forma substantivada, e ereo é a forma verbal. Este termo era usado pelos gregos denotando paixão ou forte sentimento, e também poderia ser usado como paixão da ambição ou paixão do patriotismo. Com freqüência, porém, o termo era usado por eles com referência à paixão física ou sexual, ou seja, um amor que exige um contato mais íntimo. Por isso, podemos definir como atração física, é o amor dos amantes, um amor efêmero, mais intenso, sendo o amor pelo outro.

Por seu turno, filia é a forma nominal, e a forma verbal é phileo. Uma grande variedade de palavras se baseia nestes dois radicais. Filia era a palavra mais comum para “amor” usado pelos gregos. Ele se aproxima do uso mais recente que fazemos da palavra “amor”. Tem a ver com afeição e sentimentos calorosos por alguém ou por alguma coisa esse amor, não exige uma relação sexual, pois um simples olhar já revela o quanto se ama tal pessoa. Um amor filia não precisa de trocas, pois o amado sabe que é amado, e sabe disso a partir de coisas singelas como um botão de rosa, uma bala, um abraço. Era uma palavra para uso geral, podendo ser para uma afeição d’um marido pela esposa, ou poderia ser usada para afeição de um amigo por outro. É caracterizado com sendo perene e o mais singelo, por isso é o amor com o outro.

Diferente da filia é o Águape que é a sua forma nominal, e sua forma verbal é agapao. Porque esta palavra é usada como amor a Deus? Certa vez Deus, olhou para eros e viu que ela, em geral, tinha mais a ver com paixão do que com amor. Depois Ele olhou para filia e achou que essa palavra tão especial também era limitada. Era uma palavra linda que tem a ver com proximidade e afeição, mas era essencialmente para os que estavam perto e eram queridos. Ela não se aplicava nem poderia vir a ser aplicada a todos. Então, Deus decidiu usar ágape, mas que estava à espera dum significado. Ele a pegou e a transformou no âmago do Cristianismo. Por isso, pode-se dizer que ele é amor para o outro. Aqui esse amor, que Deus nos chama, também é uma capacidade um dom de Deus para com a humanidade, quando estamos no amor ágape, somos tomados por dúvidas e angústia, pois não existe mais diferença você e aquilo que ama. Você se torna um com o amado, e assim participa de sua vida em todos os momentos.

Não pretendemos fazer aqui uma análise pragmática, semiótica ou hermenêutica do termo amor, e sim, uma meditação do amor filia. Por isso, podemos nos perguntar: donde surge o amor?

O rosto é a fachada, o nosso cartão de apresentação. A pessoa se expressa no rosto, que “avança” e sai ao encontro do outro. O que importa não é a forma ou a figura, mas, sobretudo, expressão: um simples olhar revela muito mais do que mil palavras. Expressão do quê? Da interioridade, da intimidade da pessoa. A contemplação do rosto humano não deve ser “visto”, ou no máximo reconhecido, mas como um encontro entre EU e TU. É nessa relação que descobrimos a riqueza da vida e o mistério que possui. Podemos tudo falar com um olhar e, entretanto, sempre podemos negá-lo, pois não pode ser repetido textualmente. O amor ama, à primeira vista, uma fisionomia que indica ao mesmo tempo algo a respeitar e a agradar.

A beleza é só a promessa da felicidade, isto é, é uma nova habilidade para lhe dar prazer.

O amor é como a febre, nasce e morre sem que a vontade venha a representar o menor papel. Hoje tudo é amor, amor para isso, amor para aquilo, mas se não existe um comprometimento da minha parte para com a outra, então não é amor, pode ser gratificação, troca de favores, mas quando se ama você entra num mundo em que parece ser impossível viver sem recordar cada dia a pessoa amada.

Se Deus entrega seu filho por amor, ele está intimamente ligado a nossa vida, com nossos anseios. O amor nos compromete e não nos afasta, ele inclui e não exclui. Amor, palavra que usamos tantas vezes, mas que quando somos atingidos, é como se mudasse tudo em nós. Pessoas que não acreditavam mais na vida, que estavam sem animo de viver, quando descobriram o amor, descobriram que vale a pena ficar e viver nessa dinâmica que ao mesmo tempo é tão animadora e pode ser angustiante.

Quem não quer um amor verdadeiro e honesto, um amor que abre a nossa mente, um amor que fala quando precisamos mudar... Sim, o amor é capaz de transformar.

Dixit, quod scripsi, scripsi.

Ramires karamázov
Enviado por Ramires karamázov em 08/05/2009
Código do texto: T1583456
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