Só para as mães


          Livro-me das frases feitas e teço minha homenagem às mães contando-lhes um pouco de história. Vamos lá.
          Estudiosos da Mitologia greco-romana chegaram a admitir que, na mais remota antiguidade, foram detectados indícios da existência do dia das mães.
          E lembram que Réia, na Grécia, e Cibele, na Roma antiga,  eram identificadas como as mães dos deuses  gregos e romanos, respectivamente,  e festejadas em datas e momentos especiais.
          Sendo verdadeiro o que dizem esses estudiosos, o dia das mães, definitivamente, não é coisa d´agora. Vem de muito longe.
          A pergunta seguinte, e talvez a que mais pode ou deve interessar, é como, quando e onde esse dia tornou-se um evento solene e irreversível.
          Como imagino - e este é o meu irredutível propósito - estar escrevendo só para as mães, creio que não as amolarei, recordando-lhes como tudo teria acontecido.
          Consta, que no início do século 20, o dia das mães ganhou a configuração que, com algumas alterações, guarda até os dias que correm. 
          Conta-se, que uma jovem norte-americana chamada Anna Jarvis, de repente pensou em criar uma data para homenagear as mães.
          Queria, também, com isso, cortejar sua mãe, por ela considerada uma heroína da Guerra Civil americana.
          Em 1904, ela fez a proposta ao seu país.
          Mas, somente em 1914 o Congresso americano, oficializando uma data, tornou realidade o sonho de Anna Jarvis. O ato legislativo foi prontamente aprovado pelo Presidente Woodrow Wilson
          Anna morreu em 1948, com 84 anos de idade.
          A idéia da americana de criar uma data, fixa ou móvel, para homenagear as mães espalhou-se rapidamente pelos quatro cantos do Planeta.
          Comemorações nesse sentido teriam ocorrido, por exemplo, lá no século 17, na Inglaterra, sob a designação de "Domingo das Mães".
          E o país que acolheu a idéia estabeleceu, de acordo com seu povo, com suas conveniências, ou por outro motivo plausível, o momento certo para homenagear - uso um termo que não gosto  por achá- lo cafona - a  "Rainha do lar".
          Em Portugal, o dia das mães é comemorado no dia primeiro de maio; na Tailândia, a homenagem é no dia 15 de agosto; Na China, Estônia, Estados Unidos, Grécia e Japão, como no Brasil, no segundo domingo de maio.
          No Brasil, o dia das mães foi criado por um Decreto de 1932, assinado pelo Presidente Getúlio Vargas. Milhares de mães votavam nele.

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          Enquanto escrevia esta crônica, me perguntava que mãe deveria escolher para, através dela, saudar as mães que conheço e as mães que não conheço.
          Não sei por que,  lembrei-me de Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho.
          Ah, já sei. Hoje, pela manhã, vi na televisão uma mãe, desesperada, arrancando das mãos da soldadesca enfurecida, seu filho, visivelmente drogado e acusado de um homicídio brutal.
          Aos gritos, ela dizia: "Soltem meu filho: ele é inocente!"
          Santa Mônica enfrentou, com dignidade e orações, um casamento infeliz, e, principalmente, a vida libertina,  problemática, pecaminosa, de Agostinho. 
          Suas preces foram responsáveis pela conversão do filho, hoje um dos santos mais importantes da Igreja de Roma.
          O próprio Santo Agostinho, em suas famosas Confissões escritas por volta de 397, revela que sua mãe viveu uma vida de "orações e lágrimas". 
          Num tempo em que se exigia a comprovação de milagres,  Mônica foi eleita santa sem realizar um sequer.
          Observam seus biógrafos que "ela é santa por ser mãe".
          Santa Mônica morreu com 56 anos. E desde 1430, está enterrada em Roma, numa igreja que lhe foi consagrada. 
          De repente o exemplo deixado por essa santa, uma mulher martirizada por graves problemas domésticos, pode ajudar dezenas de mães que acompanham, atribuladas, a vida irregular de um filho; como a que vi hoje na TV.  Independente do credo que elas juraram professar. 
          Minha homenagem vai, pois, para as mães sofredoras: as que conheço e as que não conheço.

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          Um quadro atribuído a Leonardo da Vinci muito me emociona toda vez que ponho sobre ele meus cansados olhos.
          Estou me referindo à Madona Litta (1490-14910)  em exposição permanente no Museu Hermitage, em São Petersburgo.
          Coloco-o ilustrando minha crônica, na certeza de que ele sintetiza, sem tirar nem por, a ternura de uma mãe...
      
          
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 08/05/2009
Reeditado em 29/12/2020
Código do texto: T1583325
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