Presente de Páscoa

Era nove horas da manhã e eu já estava enfiada no ônibus a caminho do centro. Mal-humorada e morrendo de preguiça por ter acordado cedo, me sentei num dos bancos reservados do veículo – que milagrosamente estava vazio, então não tinha problemas. Em dado momento, uma mulher atarracada e com cara esquisita entrou no ônibus e se sentou atrás do banco do motorista. Espalhafatosa, desandou a falar desde que entrou. Parecia velha conhecida tanto do motorista quanto do cobrador, que participava da conversa às vezes.

Não me acusem de ouvir conversa alheia! Isso passou longe da minha cabeça estressada. Mas ela realmente falava alto, e a voz estridente ajudava. Contava que ia dar palestras sobre Orientação Sexual em algumas escolas de segundo grau e na universidade federal. Vez ou outra comentava sobre discriminação racial, que eu não fazia idéia de onde saía tal assunto ou o que tinha a ver com a conversa anterior. Mas ela insistia e repetia milhões de vezes as mesmas coisas. A essa altura, a única coisa que eu pensava era: “tomara que não dê palestra pra minha turma, mulher insuportável”.

Entre orientação sexual e racismo, ela também cobrava um ovo de páscoa do motorista. Especificava tamanho, tipo de chocolate e até o recheio. O coitado se esquivava ao máximo, e talvez torcesse tanto quanto eu para que ela descesse do ônibus. E meu pedido foi atendido: a estranha anunciou que ficaria no próximo ponto.

_Mas olha, compra mesmo meu ovo de páscoa, hein. Você e você também! – apontou para o cobrador que desistira da conversa havia um bom tempo.

_E o que é que eu vou ganhar com isso? Cê só me dá prejuízo, isso sim. – retrucou o motorista.

Para a surpresa de todos que, involuntariamente, acompanhavam a conversa, a mulher abriu uma bolsa enorme que trazia consigo e tirou o presente do motorista lá de dentro. Algo que o deixou bastante embaraçado.

_Toma pra você brincar um pouco. Aproveita e vai ver minha palestra.

E entregou-lhe um enorme e horroroso vibrador de borracha.