SABEDORIA AINDA QUE TARDIA

Normalmente, até certa idade, achamos que nossos pais não sabem de nada. A mãe nunca representa o modelo que desejamos ser. Nós, mulheres modernas, queremos estudar, ter profissão, um bom salário que nos permita independência financeira, carro, apartamento com garagem, viagens, um príncipe encantado e tudo mais de bom que rolar. Principalmente ter liberdade e o controle da nossa vida. Não vou criar meus filhos assim. Quem não falou ou pensou esta frase, independente da sua forma de criação?

Desde que o mundo é mundo, o tempo é o senhor da razão. Crescemos, adolescemos, saímos de casa, estudamos, trabalhamos, casamos, engravidamos. Durante a espera, lemos, pesquisamos, trocamos idéias com amigas que já têm filhos, etc. Nos preparamos para gerar e educar conforme nosso conhecimento e estilo. Os herdeiros vêm e crescem. Primeira e segunda infância. Puberdade, adolescência. Eles vão se criando e nós, amadurecendo. Quando chegam à adolescência, o momento crucial. Percebemos que pouco ou nada sabíamos. Agora só eles é que sabem. Incertos e não sabidos visitamos mais nossas mães (as que sobreviveram) ou nossas vizinhas idosas, pedindo orientações. Como ela procedia quando todos os filhos gripavam ao mesmo tempo? Que tipo de chá ou benzedura usou para curar a bronquite do irmão mais novo? Como se virava com o trabalho da casa, da roça, do marido e da meia dúzia de filhos? Nós, apenas com um ou dois, ficamos às tontas. Que pedagogia ela usava para nos fazer estudar, escovar os dentes, obedecer, prestar atenção, voltar na hora marcada? De que jeito nos ensinou os valores como: ética, respeito, honestidade, naquela época com nomes mais simplórios como vergonha na cara? Não tinha Conselho Tutelar e nem precisava. Cada um dava conta dos seus, a seu modo.

Diante do nosso olhar de perda e angústia, elas desfiam sua experiência. Voltamos sempre, com algo novo para aplicar na educação dos nossos filhos. E assim, entre erros e acertos, os netos de nossas mães se tornam adultos também. Quando chegar esse tempo já estaremos envelhecidos, e independente do resultado do nosso esforço, uma certeza teremos: como era sábia nossa mãe! Ela tinha mesmo a razão!