UM DEGRAU A MAIS - AS MÃOS QUE NÃO ALCANCEI
“Errar é humano:
Perdoar, divino
(Alexandre Pope)
Não, não me chamo Isaac Newton, não entendo de Gravitação Universal, não estou sentada debaixo de uma macieira e sim de um coqueiro, de olho nos seus frutos, pois se despencar um sobre minha cabeça não vai adiantar eu perguntar para o coco por que ele não flutua ao invés de cair. E por que me lembrei do Newton? Por que estava lendo o poeta britânico Alexandre Pope, que escreveu o seu epitáfio, que diz: “Nature and nature’s laws lay hid in night; God Said ‘Let Newton be’ and all was light (A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas; Deus disse “Haja Newton” e tudo se iluminou). E, já que Deus também entrou na jogada me lembrei de Sua morada, pois estava de papo pro ar observando essa imensidão de azul que nos ensinaram a chamar de céu. Sabe, quando eu era criança imaginava que a gente alcançava o céu através de uma imensa escada, e costumava me deitar na relva pensando nisso; às vezes adormecia e numa dessas vezes eu sonhei que eu começava a subir essa escada, degrau por degrau, pois não era permitido pular nenhum e quanto mais subia mais degrau surgia; sempre havia um degrau a mais. Não me lembro de sentir cansaço, era impulsionada por uma esperança de que ao chegar no topo eu encontraria o céu e o que nele buscava... Até que enfim avistei um enorme portão aberto e no centro dele alguém de quem eu me lembrava: uma senhora alta, elegante, morena, cabelos presos feito coque, ela sorria para mim e estirou os seus braços em minha direção e eu estirei os meus para ela, tentei me aproximar, mas a escada começou a se distanciar do portão e criou-se aquele vácuo entre nós, tentei segurar suas mãos, mas não alcancei, gritei: MINHA MÃE!!! Para cair na imensidão do espaço vazio, escuro e sem fim, levando comigo a lembrança de um grito desesperado, que ecoava aos meus ouvidos: MINHA MENINA!!!