Pausa Para Subir.

Olhos no mar, pernas desgovernadas e coração na boca. Lembro da liberdade e da euforia que me acompanhavam morro abaixo na praia de minha infância.

Era a melhor hora do dia. Ao pé da duna a queda era previsível e a areia que me cobria o corpo inteiro ia embora nos mergulhos quase infindáveis que terminavam com o chamado insistente de minha mãe.

Haja esforço para subir o monte de areia escaldante, mas fazia parte da farra e eu chegava em casa com o apetite dobrado. Depois do banho para tirar o sal, desfrutava almoço e sobremesa sem contar calorias.

Hoje o morro do qual falo virou hotel onde a recepção é no andar de cima. Apartamentos, auditórios e área de lazer localizam-se nos pisos inferiores.

O mar continua no mesmo lugar, mas de certa forma aquela construção bonita dá-me a impressão de ver o mundo de cabeça para baixo.

O progresso mudou tudo por lá. O tempo agiu em mim. Todos os dias crescem degraus na minha praia e na minha vida.

Alguns, alcanço com o fôlego da menina de antes, outros me parecem íngremes demais para subir e ainda há aqueles não me inspiram segurança.

É preciso avançar. Daqui a pouco estarei um degrau acima, mas quero uma pausa aqui onde estou. Tomarei uma água de coco enquanto esqueço meus olhos no mar.

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Esse texto faz parte do 5º Desafio Recantista.

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 08/05/2009
Reeditado em 12/06/2009
Código do texto: T1582554
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