UM DEGRAU A MAIS... E eu veria o paraíso!?

 
            Eu sempre fui avessa a regras (mesmo reconhecendo sua necessidade),  paradoxalmente, vivo procurando grupos que tenham regras e zelem pelo cumprimento delas. Discordo, mas enquanto não consigo mudá-las, sigo-as religiosamente. E, foi assim, que eu me deparei com aquela escada e os degraus. 

            Em 2006, decidimos ir a Foz de Iguaçu, antes, porém, demos uma passadinha em Goiânia para visitar minha irmã, que mora lá, só que ao chegarmos a sua casa, o nosso carro apresentou um problema e, só aí, perdemos três dias, com o conserto.   Em virtude dos problemas mecânicos, decidimos passar o natal em Goiania. Cancelamos  Foz de Iguaçu do roteiro. Na volta, resolvemos conhecer as inúmeras grutas/cavernas do interior da Bahia. Conhecemos lugares maravilhosos. 

              Tal qual tatus, embrenhávamos no interior das cavernas, para em seguida mergulharmos em lagos e subirmos montanhas. Visitamos todas as grutas de Iraquara – Ba (Gruta Lapa Doce, Gruta Azul,Pratinha, Caverna, Torrinha e sua famosa passagem da francesa), fomos ao Morro do Chapéu (lembram de Pedra sobre pedra?) e visitamos a Igreja de Bom Jesus da Lapa. Uma linda construção, de mais de 300 anos, no meio de uma gruta. Lá visitamos outras grutas lindas. 

            Meu esposo chamou-me para subir o morro. Olhei, vi a cruz lá em cima e pensei em não ir. Mas, ele falava com tanto entusiasmo, que acabei cedendo. As meninas ficaram nos esperando na calçada da igreja. Começamos a caminhada. Caía uma chuva fininha. Cinco minutos de caminhada e eu já estava arrependida.

            Quanto mais andava, mas distante parecia o fim da minha caminhada. Comecei a chorar como se fosse uma criança birrenta. Escorregava freqüentemente nas pedras. E, a toda hora, estava deslizando na lama. Um tormento. Ele, o meu esposo, tentava me animar, incentivando-me: “Falta pouco. Segure em mim. Venha, apóie-se em meu ombro”.  Nada do que ele dizia ou tentava me ensinar, resolvia. O guia, ainda mais animador que o meu cônjuge, dizia: “Falta pouco, já andamos quase a metade, mais um degrau e vocês terão a mais bela visão de suas vidas”. 

            Mesmo com todo o desconforto dos muitos degraus a subir, era impossível não perceber alguns detalhes maravilhosos, como por exemplo, num determinado local, olhando para cima, víamos pelas “brechas” das rochas, desenhado pelos galhos das altas árvores, o mapa do Brasil, nítido, belo, como um raio de luz, que de tão perfeito era impossível esculpi-lo pela mão do ser humano. Portanto, uma obra natural, com certeza, desenhada com a ajuda do Criador.

            Um degrau a mais, mais outro a vencer e o caminho que não acabava nunca. Quando, finalmente, chagamos, eu estava morta de cansada, mas, em virtude da beleza do lugar, a irritação já começava a ceder e dar lugar a contemplação do belo espetáculo promovido pela natureza. Mas, o que mais me interessava saber, era o caminho de volta. Passada a raiva inicial, olhei em volta e me dei conta da beleza e magia daquele lugar. Enxuguei as lágrimas e sorri. 

            E, finalmente, pude observar a visão paradisíaca daquele ponto privilegiado, a noventa metros de altura. Do alto víamos a cidade e, ao longe, o “Velho Chico” seguindo seu caminho, enquanto o homem não desvia seu curso original. Tirei algumas fotos e, contente por não ter desistido, pedi desculpas aos meus companheiros de aventura pelo mau humor inicial. E, como na descida todo santo ajuda, a volta foi tranqüila. 


    
            


* Algumas imagens dos lugares visitados.



Este texto faz parte do V Desafio Recantista. Conheça os outros textos precedidos do título UM DEGRAU A MAIS. BOA LEITURA.
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 08/05/2009
Reeditado em 09/05/2009
Código do texto: T1582548
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