UM DEGRAU A MAIS...ENCONTRA-SE O PERFUME DAS ROSAS

“Parabéns! Você acaba de subir um importante degrau na vida.” Recebi isto escrito num minúsculo cartão encontrado entre rosas vermelhas. Concluíra, na época, minha Pós-Graduação, mas sequer havia pensado que naquele momento me encontrava num degrau acima. Ao pensar, percebi – ironicamente - que em alguns aspectos da minha vida eu estava era descendo, degrau por degrau. E em outros, tinha simplesmente estacionado. O perfume das rosas despertou em mim, a urgência da hora de dar meia volta e começar a subir.

Subir. Degraus. Acima... As rosas dispostas no vaso de cristal, me segredavam que, isto nada tem a ver com classe social, status, money. Que elevar-se independe do lugar onde moro, do carro que dirijo, das marcas que visto, dos países que já conheci ou de quantas línguas eu falo. Subir - segundo aquele pequenino pedaço de papel perdido num buquê- tinha tudo a ver com a alma. E esta, tal qual o perfume daquelas flores nuas, nada possui além da luz que emana.

Quando meus pés tocaram naquele degrau - sem que sequer tivesse me dado conta de que subira – era a minha alma que estava no andar de cima a festejar a conquista de um anseio. E quantos desejos mais eu havia abandonado em meio à escadaria? O quanto eu ainda permanecia estagnada, travada entre um degrau e outro? O quanto o medo me impediu de continuar subindo? O quanto a cegueira enegreceu meu caminho? O quanto mais eu subiria?

As rosas emergiram da água do cristal para vir me cutucar ali, com seus espinhos afiados brotados em meio ao doce perfume. Em que andar você está? Onde pretende chegar? Pretende parar por aqui?

Naquele momento me propus a subir mais. Sem bússola ou lanterna a me guiar, segui ouvindo apenas os ecos da alma. O som emitido foi abrindo o caminho, no qual foi necessário alçar os pés para acompanhá-la. E nestes incontáveis degraus, desta infinda escadaria que é viver, tenho encontrado placas a indicar:

Um degrau acima do medo está a coragem. Um degrau acima da prepotência está a humildade. Um degrau acima do rancor está o perdão. Um degrau acima da tristeza está a alegria. Um degrau acima do egoísmo está a bondade. Um degrau acima da escuridão está a luz. Um degrau acima do ódio está o amor...

E mesmo com todas as indicações, subir não é tão simples. Por vezes a força se esvai e exige que me sente. O desânimo aparece e quase me convence a desistir. O pessimismo me alcança e sussurra em meu ouvido que é melhor voltar. E por algum tempo me permito ficar assim, entre a cruz e a espada; entre a luz e a escuridão; entre o degrau de cima e o de baixo.

Então, me lembro das rosas. Sinto o perfume que me remete à alma e à luz que a abastece. É aí que levanto. Limpo-me de todo ranço da dúvida e elevo novamente o meu caminhar.

Aonde me levará este infindo galgar de degraus? Não posso responder, tenho muito a percorrer. Por que continuar, então? Um pouco pelo perfume das rosas, um pouco pela luz da minha alma e muito, porque acima do degrau da incerteza encontra-se o degrau da fé.

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Este texto faz parte do V Desafio Recantista de 2009.

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Léia Batista
Enviado por Léia Batista em 08/05/2009
Reeditado em 08/05/2009
Código do texto: T1582543