Onde havia fumaça
Finalmente, a lei que proíbe fumar em recintos fechados está em vigor. Em todo o estado de São Paulo, fumar, agora, apenas em casa ou ao ar livre: em todos os outros locais, nada de cigarro. Meu racional fica dividido pelo rigor da lei, que de certa forma cerceia a liberdade individual, mas por outro lado garante a saúde dos que não fumam e nem suportam a fumaça de cigarro - lado no qual me incluo. Porém meu emocional, esse não; está de acordo, totalmente de acordo!
Depois de ter visto meu pai sofrer por mais de dez anos com as sequelas de uma vida inteira como fumante, não posso imaginar que alguém de livre e espontânea vontade acenda e trague um cigarro. Esse vício é uma condenação lenta à morte. Na década de 50, quando fumar era glamouroso e remetia aos artistas de Holywood, entendia-se o gesto; porém, em pleno século 21, com tantas informações ao alcance de praticamente todos, esse glamour perde o sentido.
Na verdade, pouco me importo se o estabelecimento será multado ou não caso sejam encontrados inclusive vestígios de cigarro, como bitucas ou fumaça, de acordo com a restritiva lei. Continuarei a não frequentar locais enfumaçados, apesar de ter alguns amigos fumantes, a maioria deles com um negro senso de humor. Um deles, médico pneumologista de renome, fuma quase que utilizando-se de apenas um fósforo - a partir do primeiro cigarro aceso, os outros vai acendendo no anterior. Exageros à parte, quando o questionei se ele, médico especialista, não se abalava com as informações que possuia acerca dos males do fumo, respondeu-me, indiferente, que iria morrer mesmo, tanto faria se mais cedo ou mais tarde. Porém o mais desagradável, ainda segundo ele, era ter que esconder o cigarro ao encontrar por acaso com qualquer um de seus pacientes, os quais havia proibido terminantemente de fumar.
Outro amigo querido, a quem sistematicamente faço sutis apelos a largar o vício, é ainda mais engraçadinho: num email, perguntei-lhe se já havia parado de fumar. Ele me respondeu: "Parei sim! Faz uns vinte minutos, mas logo logo vou fumar de novo..."
Mas todo esse discurso tem endereço certo. Estou provocando um amigo em especial, a quem também às vezes incomodo sugerindo que deixe de fumar. Estou aqui, esperando sua crônica-resposta, uma daquelas cheias de argumentos inteligentes e divertidos com os quais desenvolverá seu texto sempre impecavelmente escrito e me fará dar muitas risadas. Porém ele não vai poder fazer isso, ao menos não agora. Estou aguardando que volte ao Recanto, pois no momento está num hospital recuperando-se de um problema gravíssimo de saúde - a causa, acho que não preciso dizer.