TAL É EM CIMA QUAL É EMBAIXO

Para pés mobilizados não há distâncias, para olhos ansiosos, desejosos, há somente a visão do que é amado, em destaque, como num out door. Levando em conta a subjetividade, o que é longe? Advérbio de lugar, circunstância para caracterizar uma ação? Nada disso, eu tenho uma definição bastante pessoal: LONGE É O LOCAL AONDE A GENTE NÃO DESEJA IR.... Longe está o que não desejamos e perto demais o que não é aprazível. O primeiro porque assim o coloca a nossa subjetividade racionalizadora, o segundo, por absoluta impossibilidade de convivências entre seres e situações refratários uns aos outros.

Dessa forma, pessoas se expressam conforme as conveniências e nos iludimos se pensarmos estar sendo diretos, lógicos, frios, racionais. O tempo inteiro nos expressamos e interagimos como resultado de uma verdadeira balbúrdia interna, nada menos desorganizado. Então imagine-se o drama daqueles que tentam dar "sentido" a tudo que lhes passa pela cabeça, a todas as impressões e sentimentos surgidos na correria diária. Teria fulano dito aquilo pra me agredir? Por que senti aquele nó no estômago quando falaram em ...? Estarei criando uma dupla personalidade pois ontem de repente, me vi na esquina rodando a bolsinha e me alonguei muito neste devaneio, devaneio?? Além disso, por que parece que tem aumentado o número de pessoas desagradáveis a minha volta nestes útlimos dias? Será que todo mundo resolveu me tirar pra bobo agora? E não é que a minha casa está cada vez mais desconfortável, acho que vou tirar todos esses móveis e encher de plantas. Afinal, por que eu não consigo parar de pensar nele se o dito nunca mais mandou sequer uma mensagem de celular?

E na mesma linha desta dinâmica dos pensamentos podemos dizer ainda que pequena é a roupa que custa uma fortuna , desagradável é o passeio do qual não desejamos participar e lindo é subir a serra embaixo de cerração para chegar numa cidadezinha deserta com chuva forte e comer comida fria, desde que seja "aquela" cidadezinha, aquele restaurante aonde já fomos tão felizes e que estejamos com companhia muito querida. Então posso dizer também que impossível é aquilo que realmente não queremos fazer, estranho é o objeto que o vizinho colocou no seu jardim, genial é o primeiro grunhido do nosso bebê- super, indispensável é a galinha preta do despacho.

Mas confusos mesmo parecem estar os físicos que descobrem que a matéria não é "estável", que os átomos da mesma substância podem apresentar comportamentos inesperados quando elétrons de forma nada prevista até pouco tempo, saltam em busca de núcleos de natureza diferente, acontecendo combinações talvez bizarras. Que o pensamento atravessa camadas de chumbo as quais nenhuma matéria consegue transpor e eu é que não vou dar mais me enfurnar mente adentro pra descobrir por que enfim, fiz isso ou aquilo, paguei caro por uma inutilidade, odiei minha grande amiga, quase me peguei de tapas porque ela ousou escoher justamente o poeta que eu "descobrira" e pior, escreveu um email todo derretido pra ele e teve o displante de me contar na maior inocência, pra falar que ele tinha respondido.

Infelizmente, não raro estamos desconectados do contexto, como cobaias isoladas em um microscópio, feito espermatozóide perdido de sua origem e finalidade, morrendo na praia. Pois neste teatro da vida os intervalos aonde nos quedamos meio atordoados na balbúrdia parecem ocupar mais espaço no nosso interior do que a peça inteirinha. Uma luta entre nossa preguiça natural de bichos, nossos códigos de postura animais ignorados, travada sem trégua com nossas atitudes pretensamente civilizadas e empreendedoras, o que resultará em doenças cardio-vasculares, loucuras em geral, dependências variadas e uma infelicidade avassaladora.

Eu gostava de ver as coisas e pessoas refletidas no "espelho" de um velho retrato protegido por um vidro. E desde então, soube que nada pode ser retido, tudo flui e o que está do lado de cá, é tão real quanto o que está daquele outro, e ainda outro, tal qual Hernes Trismegisto falou "que aquilo que está em cima é igual àquilo que está embaixo e que aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, para realizar os milagres de uma única coisa".

Na verdade parece mesmo estarmos no "ralo" e a tal formação humanista relegada a compêndios empoeirados em velhas prateleiras ociosas. E tudo que está cá embaixo agora se repete se multiplica em telas e telões, tantas informações retidas em máquinas gigantescas, e eu que me deslumbrava ao ver as pessoas caminhando em direção à casa relfetidas no espelho daquele vidro do retrato, na sombria sala, de frente pra janela aberta. E mesmo assim, ainda está valendo o que dizia o guru dos alquimistas: que o que está embaixo é igual ao seu reflexo em outra dimensão... mas ele não conhecia a tevê e outros meios de comunicação, aonde tudo que se lê, ouve ou enxerga é sempre uma "leitura" bastante infiel ao que não se deseja mostrar. E a humanidade desceu das árvores para poder cortá-las e tentou esquecer que seu corpo era o de um animal, a ponto de agora a cirurgia plástica estar comprovando o desejo insano de reconstruir a nossa anatomia com próteses e implantes logo transformados em modelos completos prêt-a-porter Vai aí um bumbum à brasileira?

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 07/05/2009
Reeditado em 08/05/2009
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