A Verdade
Estava aqui dando umas orelhadas, sem saber sobre o que escrever. Foi o, pasmem, Jornal Nacional, quem me deu a pista.
Van Gogh era um pintor genial. Pioneiro do pós impressionismo, suas obras influenciaram vários movimentos do século XX, como o expressionismo, o fauvismo, o abstracionismo...
Como acontece com muitos artistas geniais, Van Gogh também era doido de pedra. Suicidou-se aos trinta e sete anos, vitimado por uma doença mental, agravada pela partida de seu amigo Paul Gauguin para Paris após uma briga que os dois tiveram, sete meses antes.
Os dois dividiam um atelier e moravam juntos em Arles, na França, mas não compartilhavam das mesma opiniões sobre arte, além de possuírem temperamentos bastante diferentes: Van Gogh era introspecto, pouco afeito a pilhérias, ao contrário de Gauguin, um bom vivant extrovertido, que não perdia nenhuma oportunidade de provocar o amigo.
A história conta que os dois tiveram uma violenta discussão em dezembro de 1888 e Gauguin teria ido dormir numa pensão, deixando o amigo completamente fora de si, ao ponto de cortar a própria orelha com uma navalha e depois dá-la, enrolada num pano a uma prostituta, de nome Raquel.
Porém, os historiadores alemães, Hans Kaufmann e Rita Wildegans, escreveram um livro em que apresentam uma outra teoria para essa noite fatídica. Afirmam que Gauguin é que seria o autor da mutilação, sem esclarecer se foi maldade ou apenas um acidente, enquanto tentava defender-se do violento ataque do amigo. Os dois haviam feito um pacto para que Van Gogh assumisse o ato tresloucado e Gauguin fugiu para Paris.
É verdade que esta é uma informação sem a qual você poderia continuar vivendo muito bem. Aliás, você, assim como eu, está se perguntando por que dois respeitados historiadores alemães se deram ao trabalho de escarafunchar relatos e relatórios policiais contemporâneos aos fatos para desvendar esse mistério ao invés de se dedicarem a estudar os fatores que levaram Vincent a romper com o impressionismo e produzir obras de valor artístico inestimável.
E a resposta esquece os pintores do século XIX para nos remeter aos dias de hoje. Simples! Pode pesquisar: tablóides de fofoca vendem, sempre venderam e sempre venderão muito mais do que qualquer respeitável publicação sobre artes existente.
Fez lembrar um texto de Luís Fernando Veríssimo, chamado “A Verdade”. Nele, Veríssimo conta a história de uma donzela que perdeu seu anel enquanto repousava a mão mergulhada num riacho e, temerosa da fúria de seu pai, mentiu dizendo ter sido roubada. Por causa de sua mentira dois homens inocentes foram mortos, acusados do roubo. Um terceiro homem estava com o anel e quando já iam matá-lo ele pediu a palavra, dizendo que a princesa havia dado a jóia como pagamento por favores sexuais. O povo puritano não a perdoou e ela foi condenada à forca, no lugar de seu acusador. Quando se encontraram ela comentou: por minha mentira, dois inocentes foram mortos. Pela sua, eu serei. Onde está a verdade? E ele respondeu: a verdade é que eu encontrei este anel na barriga de um peixe, mas o que todos querem mesmo é violência e sexo, não histórias de pescador.
Imagem daqui.