Texto para o dia que li uma carta.
Texto para o dia que li uma carta.
Alexandre Menezes
Momento estranho. Destilo minhas idéias guardadas no labirinto estranho perdido na minha caixa craniana, que algumas vezes parece ser de carvalho, para surgirem sabores, aromas e serem oxidadas. Parece com um novo tonel toda vez que penso ou repenso.
Vejo idéias assim: depois de curtidas pelo tempo necessário a gente engarrafa, coloca pra fora e cuida bem. Algumas escondemos, outras a gente deixa pra que degustem sem pretensão e poucas a gente expõe. Questiono as possibilidades de uso como engolir por gula e embriagar por medo. Particularmente prefiro tentar desvendar os sabores e aromas adquiridos no oxidante tempo que descansou no recipiente.
Todas as vezes que revejo minhas observações e ponderações mundanas descubro que há sempre um novo ser. Por crise existencial ou não, prefiro não armazenar as novas no mesmo local das antigas. Aprendi que espaços novos são mais propícios para que os futuros cheiros e gostos da vida sejam adoráveis. Por mais que a limpeza seja aparentemente perfeita, a reutilização torna sua utilidade inerte, limitando apenas aos efeitos oxidantes do tempo. Pretendo que ele leve uma boa “parte dos anjos”.
Como é de costume, me vejo perante uma carta num momento de escolha. Mesmo que a origem seja familiar, geralmente procuro encontrar diferentes sabores e aromas. Não sei se existirão ou se ao menos serão percebidos, mas não me furto de tentar e, nessa fase, não deixo nada pro santo.