Mãe Gentil

Enquanto todos entravam em forma para cantar o Hino Nacional, o que acontecia todas as terças e quintas, nós os professores éramos incumbidos de organizar os alunos. Cada professor de acordo com a sala que trabalharia na primeira aula.

Crianças são crianças.

Depois de uma considerável guerra para colocá-los em forma e em ordem, apertava-se o play e começava o festival. No momento em que era executada a canção patriótica, alguns alunos se cutucavam, se chutavam, satirizavam a forma de cantar. Uma tremenda falta de respeito. Afinal de contas eles não sabem que é o hino de seu país, que enaltece a bandeira, os campos, as florestas, a liberdade?

São nossos estudantes tão antipatriotas?

Senti uma necessidade enorme de dizer-lhes tudo o que sempre acreditei: respeito ao hino, respeito à bandeira, respeito á nação, ao próximo e respeito a si mesmo. Mas como ser transmissor de idéias assim, tão altruístas para não dizer, patrióticas quando os maiores interessados em ensinar-nos a amar a terra adorada entre outras mil, são os primeiros a causarem o ódio e desgosto por princípios básicos de qualquer cidadão? Um sentimento muito desagradável tomou conta de mim enquanto cantávamos e pensava sobre isso. A ética, que deveria estar deitada eternamente em berço esplêndido, devia ser banida dos nossos dicionários, pensava, pois não tem mais lugar nos punhos da justiça. Ela foge da mente dos criadores das leis, que as produzem para si em detrimento dos demais, dos demais que são milhões e que como agravante, colocam quem cria essas leis no lugar que estão, legislando em causa própria (perdoem-me o lugar comum). Como ensinar ética, patriotismo ao coração do Brasil? Como ensinar ética às nossas crianças?

Meu Deus, sinto pelos ateus, mas eu não sei mais a quem recorrer.

Um aluno da sexta série desfere mais um chute certeiro na canela do colega da frente e volto então ao pátio do colégio, desembarcando das farras das passagens aéreas, da farra do 15º salário, da farra dos milhões escoando congresso ou senado abaixo.

Continuava o hino... dos filhos deste solo és mãe gentil... MÃE,,, veio-me à memória, domingo é dia das Mães e isto fez ressurgir dentro de mim um sentimento muito mais forte que a descrença, que o desgosto, que a aversão causada pelos políticos imorais e maior ainda que a apatia que sutilmente tomava lugar no âmago da minha alma. Lembrei-me que sou filho deste solo e que eu tenho uma Mãe gentil e minhas elucubrações pessoais fizeram-me pensar muito forte: ManhêÊÊê, eu ainda te amo e saiba que mesmo com tanta gente tentando acabar com a gente, não se preocupe, por que EU vou continuar cantando o seu hino, vou continuar te amando e te respeitando, e olha, vou tentar ainda, mesmo que sendo aparentemente impossível, passar e ser um transmissor dessa idéia: PATRIOTISMO.

Pátria Amada... BRASIL.

Cláudio, sem intervalo, e Marcos, a cópia do hino nacional na próxima aula.