O HOMEM DO RELÓGIO DE 300 REAIS
O que o mundo quer lhe dizer quando você encontra em lugares diferentes o mesmo homem vendendo um relógio que vale trezentos reais por cinquenta?
Ele não tinha cara de vendedor ambulante ou assaltante; era um homem em seus cinquenta; de terno, gravata, cabelo bem penteado, elegantemente vestido, que na primeira vez, sentou ao meu lado no ônibus e perguntou:
- Quanto você acha que custa esse relógio?
Eu não entendo nada de relógio, há tempos vejo o tempo dos homens no relógio do meu celular. Olhei pra ele com cara de estudante de letras sendo perguntado sobre fisíca quântica.
- 300 reais, meu amigo - disse ele - mas por você eu faço por cinquenta.
Quando as pessoas precisam desesperadamente de dinheiro, vendem casas, vendem jóias de família, carros por sonho de valsas, o corpo como mercadoria; ele não parecia precisar de dinheiro, nem ser louco, só queria vender o relógio de 300 por 50. Por cautela, tirei a minha carteira do bolso perto dele, agradeci a oferta e desci no próximo ponto.
Esqueci que ele existiu em meu caminho, até que ele surgiu de novo em minha trilha quando eu ia a Paulista, e no meio da avenida surge novamente esse homem com a mesma oferta:
- Quanto você acha que custa esse relógio?
Sim, tudo pode ser apenas uma coincidência, se não tivesse ocorrido um terceiro e um quarto encontro.
Não sei quanto a você, mas esse relógio está me apontando alguma coisa além das horas...