QUANDO NOS TRANSFORMAMOS EM SIMPLES NÚMEROS!
Não me agrada ser um número a mais, na estatística social. Não reconheço a minha identidade como um número, apenas. Sou 34.143-0... em minha ficha médica no Hospital do Servidor Púbico Estadual. 01-0000(.....) no Banco onde mantenho a minha conta corrente. Números e mais números. E onde fica a identidade do cidadão, aquela que foi carimbada em seu registro de nascimento, com nome e sobrenome?
Outro dia, aguardando para ser chamada em um órgão público municipal, onde havia ido requerer o que me era de pleno direito, sem necessidade de recursos, estava distraída, rabiscando alguns versos, quando uma moça, sentada ao meu lado, disse-me:
- Por acaso não estão chamando a senhora? Ao que respondi: - Não ouvi chamarem o meu nome, será? Levantei-me e me dirigi à pessoa que ia chamando os que esperavam, pacientemente, para serem atendidos. – O senhor chamou-me, por acaso? E ele: - A senhora é o número 419? Se for, chamei sim, faz tempo! Pedi-lhe desculpas e me sentei onde ele me havia indicado, para ser atendida.
É verdade que me deram uma senha com o tal número, mas também é certo que meu nome foi registrado no sistema. E, sem um painel que ficasse à mostra, chamando-nos eletronicamente, de onde fosse possível a visualização do número, tornou-se um tanto difícil ouvir chamarem o meu número, com todo aquele burburinho no imenso salão.
Por essa e outras é que eu me recuso a ser simplesmente um número. Um número é óbvio, mas não identifica a individualidade de ninguém. Equivale a uma contagem numérica onde todos são colocados no mesmo balaio, só esperando a sua vez de serem escolhidos para, seja lá o que for, quase sempre sem sentido.
A ordem numérica das coisas é exata, faz parte da ciência da matemática e nós, seres humanos, não somos nada exatos e muito menos seguimos qualquer ordem. Apenas aquelas obrigatórias a que não podemos fugir. Somos fúteis, falhos e afeitos a mudanças de opiniões e humores a todo o momento. Esta é a nossa origem, a nossa vantagem. Usamos nosso cérebro e nossos sentimentos de acordo com a situação e condições de estabilidade – ou não! Por isso mesmo, somos fascinantes!
Quando nascemos, coloca-se um número de identificação em nosso pezinho e, quando morremos, penduram uma etiqueta horrível, com um número, em nosso dedão do pé! Coisa mais chata... Sem o menor glamour! REST IN PEACE! (Eu, heim!)!