Adãozinho (I). O cabo...

Adãozinho (I). O cabo...

Adão é um sujeito caladão e correto, que mora na fazenda, é agricultor, cuja vida é trabalhar e, trabalhar.

Vem uma vez por mês à cidade. Tomas umas e outras e...

...Vira Adãozinho, um bebinho peguento e abusado, que apronta de tudo – torra o saco da clientela dos bares da beira de estrada, vira serrote de cerveja e pinga, esquece de devolver a bicicleta que pegou emprestado (sem avisar o dono) e, por aí vai...

Num dia desses, estava numa lanchonete na beira da rodovia e começou a aporrinhar todo mundo, até que chegou uma viatura, conduzida pelo Cabo Inácio, conhecido por ser um policial impaciente e grosso.

Com pouca conversa, levou Adãozinho preso. Mas, não foi sem trabalho. No caminho da delegacia, o policial perdeu a paciência e deu um esfrega no detido.

No outro dia de manhã, chegou a delegada (delegadinha nova, que tinha recebido a primeira lotação justamente ali, naquela cidade) e, já foi perguntando ao Cabo Inácio: “Transcorreu tudo tranquilo esta noite, Cabo?”, ao que ele respondeu: “Sem alteração. Mas... trouxe o Adãozinho preso!”, olhando para o nada. “Qual foi o flagrante?”, perguntou a delegada, desconfiada. E o cabo: “...tava lá na rodovia, incomodando todo mundo, pedindo dinheiro pra pinga. Mandei ele se aquietar e, nada. Então, eu o trouxe preso.”

A delegada, desconsolada, atalhou: “...Mas, cabo Inácio, isso nem era motivo para detê-lo! Tire já o Sr. Adão da cela e traga ele aqui no gabinete...”. "Rahn! É porque a senhora não conhece o malandro... Ó, Adãozinho tá lá no fundo da cadeia, doutora. Pus ele pra capinar o quintal.”, informou o policial, em tom monocórdio. “Pelo amor de Deus,

Cabo Inácio, trabalho forçado? Desse jeito, quem acaba indiciado é o senhor! Vamos até lá. Quero ver a situação do preso...”, disse a delegada nova, cheia dos procedimentos.

Foram os dois até os fundos do prédio. Adão estava lá, com o semblante fechado e pequenos hematomas e escoriações, suando feito um chaleira velha, enquanto capinava o mato.

A delegada, querendo descontrair a situação complicada, foi perguntando: “E aí, 'seu” Adão, como está a enxada?”

E o Adãozinho, mirando com firmeza o policial que a acompanhava, respondeu, batendo com o olho da enxada numa pedra:

“A enxada tá boa, Doutora. Mas, esse cabo... esse cabo não vale nada!...”