A Vida é Bela da Janela
Estava a contemplar as ruas próximas de onde moro, a pouco mais de um ano. Um prédio bem situado, próximo de tudo o que tem a ver com as necessidades de todo e qualquer cidadão, pagador de imposto. Decidimos agir tendo este, como principal critério, na hora de comprar o apartamento dos sonhos. De fato, o local é bem diversificado, com universidades, escolas, hospitais, shoppings centers, bancos. Dentre outras vantagens, que nos possibilitam até mesmo o não uso do automóvel. Perfeito! A paisagem é bastante aprazível. Tendo por base, o fato de ter sido ainda pouco explorada pelo comércio imobiliário, graças a Deus!, e ao senso de preservação da fina faixa de Mata, dita, Atlântica, por alguns poucos, que tem alguma consciência de valor ecológico. Mas, com tudo isso, me ponho a pensar! ... Nos poucos que têm tais privilégios nesse mundo. Já vou globalizando o assunto! Isso mesmo! Nessa minha contemplação, percebo o carroceiro que passa, catando o que vê pela frente, em busca de algo que possa lhe garantir uns trocados pra o pão daquele dia. Nos vendedores ambulantes, como o jovem senhor das pamonhas de milho, gritando alto e em bom som, propagandeando o seu artesanal produto. E bota artesanal nisso! Oh comidinha trabalhosa! Também o vendedor de frutas, com seu carrinho de carga, e com um mega auto-falante, com aquela voz peculiar, vinda de um aparelho "modelo décadas atrás". Do lavador de carros, polindo com capricho, o automóvel de última geração de um nobre morador. Da velhinha que passa, com seu chinelinho gasto, arrastando consigo seus paninhos de prato, expondo-os orgulhosa aos moradores, o que ela própria, singelamente decorou com os temas da região, caju, jerimum, ou com os dias da semana. Dos meninos magrelos que chegam timidamente, catando comida nos depósitos de lixo, das casas e prédios vizinhos, e, aproveitando o pouco e raro contato para perguntar se não tem alguma roupa velha, pra lhes doar. Dos trabalhadores braçais da obra ao lado, com seus corpos já maltratados, se arriscando nos andaimes, quais anônimos homens-aranha. A lista é infindável. Só saindo para a rua, para sentir quão dura é a realidade de muitos. Pois, para os que estão dentro de seus lares confortáveis... A vida é bela, vista da Janela!