Quebra de Segurança
 
 
Era um desses dias comuns, tediosos e sem graça. Para imprimir um pouco de ação a tal monotonia, resolvi fazer compras. Bem não era esse tipo de ida ao shopping, em dias de ansiedade, quando saímos por aí gastando o que temos e o que não temos, apenas para acabar com a angústia existencial...e ainda por cima acabamos deprimidos por causa das dívidas.
 
Os tempos são outros. Fiz uma pequena lista de coisas realmente necessárias, mas que acabam ficando para trás quando temos que comprar outras coisas mais necessárias do que aquelas. Como comida e produtos de limpeza, por exemplo. Quanto, de nosso tempo gastamos, gerando lixo, recolhendo lixo, tratando lixo. Há muitas formas de definir o ser humano, de diferenciá-lo do animal. O que se aponta por aí, não sem razão, até que se prove o contrário, é o uso da linguagem articulada, instrumento do pensamento, da cultura, da produção artística. Mas poderíamos variar de vez em quando e dizer que nossa capacidade de produzir toneladas de lixo nos diferencia de nossos irmãos menos dotados, os animais [i]irracionais[/i].
 
Mas, voltando à racionalidade, entre os itens de minha lista constava um pequeno e simples espremedor de limão (que eu queria de aço inox). Depois de ter procurado nos lugares de compra mais habituais, sem sucesso, resolvi ir ao Makro decida a resolver
o assunto naquele dia. Quando estava chegando perto da entrada, apareceu um daqueles
carros blindados de transporte de valores, de certa forma, forçando a passagem. Dei-lhe a vez e, portanto, fiquei atrás dele. O carro aproximou-se da cancela e uma porta foi aberta para que um dos seguranças saísse para apertar o botão que libera a passagem. Não consegui conter o riso, ao ver, enquanto era a minha vez de entrar, o carro estacionar e dele descerem os homens armados, com coletes, todos em posição de alerta. Passada a primeira sensação de hilaridade da situação, fiquei a analisar o contraste entre o que vira antes, a solução precária para adentrar o estacionamento do supermercado e o aparato posterior a impor respeito, a manter todos receosos e à distância. Não me contive e, cautelosamente, aproximei-me do vigilante e perguntei-lhe se ele não achava que aquele procedimento na entrada não era perigoso, uma quebra de segurança, ainda mais naquele local: uma cancela perto de uma passagem de nível inferior. Ele me respondeu que nunca havia pensado nisso, mas que realmente era. Fui procurar meu produto, pensando porque ninguém ainda havia pensado em colocar nos carros blindados o mesmo sistema das rodovias, o de passagem livre por leitura de censores... Quem sabe algum executivo de uma dessas empresas leia minha crônica e ponha a idéia em prática, embora confesse que relutei muito para escrever, porque um malandro também pode ler meu texto e tomar conhecimento dessa falha. Ah! O espremedor de limão estava em falta. Acabei comprando um de plástico, no Wall-Mart.