Texto para um dia de sonhos.
Texto para um dia de sonhos. (rascunho)
Alexandre Menezes
Ele passou um dia inteiro relendo seus sonhos. E já balzaquiano sentiu saudade do tempo em que sonhava acordado no papel. Cadernos, blocos, guardanapos de bares e por uma certa vaidade papel de pão. Lembrara que sua timidez o fizera registrá-los com cores de lamento, tormento, ansiedade e algumas vezes esperança. Fora adolescente.
Arderam seus olhos: o passado lido misturado com lágrimas fizera o dia diferente. Lá estavam cartões e cartas não entregues para amores não vividos. Como desejara aquele encontro e nem ao menos se submetera ao não. Aliás, vários encontros, até porque quando falta coragem parece que a cada instante surge novos amores e novas vontades, ou para libertar ou para tornar cada vez mais covarde. Não entregara milhares de textos; não vivera dezena de amores.
Pensara em ser escritor. Mais um sonho frustrado pela sua covardia. Assim como os olhos, suas mãos ardiam com o suor frio que não sabia ser do rosto ou das próprias mãos. Elas ao rosto denunciavam desespero ao reler, diante do espelho, poemas escritos para serem declamados, mas que nunca foram além do espelho e do papel. Fora seu único leitor e espectador.
Ao reabrir seu passado percebera ter se tornado um colecionador de selos em envelopes nunca postados. Todos sem remetentes e vários sem destinatários, sabia ser seus, porém, não sabia mais porque havia sonhado, quem havia desejado: os motivos dos sonhos. Sentira vontade de declamar os poemas, entregar as cartas, cantar as canções... Tivera coragem, mas chorara por não poder realizar.
Eu daqui, apenas conto o que vi de longe. Calei-me diante daquela coragem desnecessária e inútil para os dias que seguirão. Todos os textos ( cartas, poemas, canções...) voltaram para a caixa e, novamente, voltado para o espelho, declamava novos poemas mudos, ensaiava canções, e ,cuidadosamente, anotava os destinatários acreditando ter aprendido a sonhar. Futuras desilusões.