OBSERVADORA DE PESSOAS
... Eu sou observadora, sim. Há muito tempo... Há muitos anos me transformei em observadora de pessoas. Assim eu consegui ir entendendo a vida, os fatos e as conseqüências deles... Apenas observando pessoas, mesmo quando se encobrem em suas teias.
Conheci contradições. Muitas! Mas muitas mesmo, porque pessoas também são contraditórias. Não todas. Apenas as que não se definiram ainda. Falam, na maioria das vezes, sobre como gostariam de ser, pintando uma imagem das quais se esquecem - volta e meia - e, assim, observando-as, vi que não falam de si mesmas, mas de quem ou de como gostariam de ser... Talvez de como achem que seriam amadas.
Chamo a estas pessoas de pessoas-que-mentem. Mas, penso se mentem ou se acreditam no que dizem, nas suas próprias fantasias de serem o que não são, o que não conseguiram alcançar, mas que acham bonito ser... Que sabem ser o bonito de se ser.
... Eu acredito em pessoas, nos pedaços que são no início de qualquer relação... Mas observo-as atentamente. É meu instinto, é minha mania. Minha memória faz do que me dizem um conjunto de peças, que vou guardando - mesmo sem prestar atenção que estou fazendo isto- e que se juntam de repente e me mostram a opinião que formei sobre elas. Assim escolho pessoas.
Não gosto de pessoas que se confundem consigo mesmas ou que tentam me confundir sobre quem e como, verdadeiramente, são. Não gosto de pessoas-que-mentem. Não gosto pra eu amar. Gosto delas onde elas estão, desconhecidas ou pra um convívio social, mas longe de minha intimidade e da possibilidade de eu vir a amá-las e me desconsertar ao descobrir que amei quem não existia. É meu instinto, minha preservação.
... Eu sou observadora, sim. Há muito tempo... Há muitos anos me transformei em observadora de pessoas. Assim eu consegui ir entendendo a vida, os fatos e as conseqüências deles... Apenas observando pessoas, mesmo quando se encobrem em suas teias.
Gláucia Tassis