OS PÓS-MODERNOS E EU

Sempre ouvindo o que tem a me dizer, a esclarecer sem que eu peça. Às vezes, sinto o ímpeto indefinível e prático de dizer o que penso. Está aqui, na ponta da língua. Mas não o faço. Como faz toda a gente. Como dizem os que se julgam de auto-estima prolongada. Existe esta expressão? Não sei, mas são os fortes, os que não levam desaforo pra casa, os que cortam o trânsito, arriscam suas vidas e a dos outros, os que imergem em soluções mágicas para sobreviver ou que se interpolam entre os que usam a inteligência e a moral, os políticos, os emergentes, os de pouca índole, os que se “acham”, como se diz na gíria popular. Não consigo ser assim, sou velho, desgastado, educado demais para os padrões pós modernos. Mas que dizer dos que não tem padrão? Ou não seguem nenhum? Melhor não definir nada, não identificar os projetos e planos que assolam nossas mentes conturbadas, iludidas e manipuladas pela mídia, pelo outro que já foi manipulado e não sabe, e ainda se julga eficiente e moderno, uma modernidade de superfície, estática e de fachada. Estes são os fortes, valentes, que sobem nas calçadas em seus carros avantajados, que buzinam na frente de hospitais, que trovejam seus sons de funck ou coisa parecida, que olham e não vêem, que cheiram aromas desconhecidos porque desconhecem o perfume mais tenro de flores que não se criaram. São eles, sem duvida, os que estão aqui e ali, as falsas celebridades, os falsos profissionais, os falsos cidadãos. Cidadãos? Nem se situam nestas categorias. Quem sabe, no máximo, imitam o papel das novelas, aquele esperto e audacioso, que ganha a mocinha, não tão mocinha atualmente e vence todas as batalhas para erguer o pulso vitorioso, ganhando e enganando, cultuando o corpo e ocultando a alma. Este é o padrão, o mais utilizado, o que enche de silicone tórax flácidos ou bundas omissas. Esses são os verdadeiros lideres que invadem o país, que assolam a humanidade, que ressurgem dos arremedos infames de gente subordinada, subalterna à mensagem única, padronizada, grotesca, que molha a boca de pequenas gotas, mas não engole o orvalho, não espia a lua, não expia a alma.

Não, não quero ser destes fortes e valentes Stalones ou outros mais recentes. Não, não quero pertencer a esta raça de clones fatigados de energéticos, entediados de viagra, de bebida e drogas. Não, não quero buscar esta coisa igual que consome e se alastra, entre bordoadas e facetas nazistas.

Não, quero viver. E para isso, aspirar o perfume da flor terra de minha janela, uma janela única que dá pro céu e aquece a alma. A alma? Pra quem tem.

Gilson Borges Corrêa
Enviado por Gilson Borges Corrêa em 04/05/2009
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