Homenagem às mães - Se ela soubesse a falta que faz...
Se ela soubesse a falta que faz...
Se ela soubesse a falta que faz...
Todas as atenções neste final de semana serão, certamente, para as mães. Elas serão alvo de homenagens, lembranças e muitas demonstrações de carinho de declarações de amor. Serão lembradas como as rainhas do lar, como as pessoas mais importantes na face da terra, merecidamente diga-se de passagem.
Na verdade, aquele “chavão” por todos nós conhecido de que ‘mãe é mãe’, é verdadeiramente sábio. Não importa sua condição social, sua nacionalidade, sua cultura, nada disso importa. Importa, isto sim, ser mãe, mas o mais importante é ter uma mãe.
Falar de mãe, no meu caso, é lembrar com alegria e saudade sua existência. Foi uma vida e momentos inesquecíveis. Em todos os momentos de minha vida lá estava ela. Sempre pronta para atender minhas necessidades e de meus irmãos. Lembro-me certa vez,quando criança, ao me dirigir a uma fazenda para buscar um tarro de leite, enquanto esperava o mesmo ser tirado de uma vaca, brincava nas redondezas. Em dado momento surgiu um bode. Imediatamente, como brincadeira, passei a provocá-lo de longe para ver sua reação. De repente o animal partiu em minha direção e eu, desconcertado, fiquei sem ação. Minha sorte é que o bode era pequeno, mas mesmo assim me deu uma cabeçada, me derrubando. No episódio, a reação imediata foi gritar pelo nome dela: “MÂEEÊ”! O episódio teria sido trágico se não fosse cômico. Naquele momento ela foi lembrada novamente como a salvadora. Sempre foi assim, sua existência dava a segurança para os passos a serem seguidos em todos os momentos.
O tempo passa, a gente cresce, fica adulto casa, tem filhos, torna nossa mãe avó, mas continuamos a ser chamados de ‘guris’. Nas visitas em que fazia a ela sempre havia o doce preferido nos esperando, nossa comida favorita e o carinho costumeiro junto com a alegria de sempre.
Lembro-me, também, do dia em que dei-lhe a notícia que poderia tornar-se bisavó. Surpresa e realizada questionou-se se viveria essa alegria. Não foi daquela vez, pois a gravidez de minha filha acabou não se confirmando. Alguns meses depois, ao completar cinqüenta anos de casados, ela e meu pai reuniram a família para um jantar. Afinal, eram cinqüenta anos de convivência a dois, em que construíram uma família numa harmonia exemplar. Na oportunidade, a data (véspera de Natal de 1998) foi comemorada com a alegria que caracteriza esse tipo de acontecimento. Porém, sua alegria não era completa. Faltava um de seus filhos. Ele partira há alguns anos e desde então parte dela fôra junto com ele. Seu comentário mais lembrado nas duas bodas de ouro era que sentia-se realizada completamente e que a partir de então não teria mais pretensão alguma.
Parecia saber, acho que sabia ou pelo menos agia contando com isso, que partiria em breve. Menos de dois meses depois desencarnou. A exemplo do que acontecera na despedida do mano, meu pai fez a despedida dela. Durante alguns minutos discorreu sobre sua vida, suas qualidades e principalmente seu amor pela família que constituíra. Aquela despedida foi uma verdadeira declaração de amor à vida. Meu pai, um espírita convicto, fez uma despedida de muita serenidade, a exemplo do que fora a vida dela, sobretudo de resignação e aceitação, pois naquele momento todos entenderam que sua missão em nosso meio havia sido cumprida. Rodeada pelo marido, filhos, netos, genros, noras com um amor até certo ponto egoísta, na verdade egoístas somos nós que não queríamos abrir mão de sua presença, entendia ser a única capaz de amar tantos seus entes com amava.
Lembro-me dela com alegria, mas com saudade. Sua falta é impossível de ser medida. Quanto mais passa o tempo mais saudade eu tenho dela. Se ela soubesse a falta que faz....
Quem ainda tem sua mãe, por favor, trate de abraçá-la, afagá-la e agradecer a Deus.
Herivelto Cunha (texto publicado no Jornal Diário da Manhã, 2001, Chapecó-PR)