O MUNDO DÁ MUITAS VOLTAS!...
Um vendedor de coco verde, assim como o produto que ele vendia, vivia sempre “pendurado”. Isto é, devia a duas categorias: 1- A Deus; 2- e todo mundo. Fazia algum tempo que a palavra crédito tinha sido abolida do seu dicionário particular. Fazia um grande malabarismo para conseguir algum dinheiro emprestado. Pegava de um para saldar a dívida com outro. E assim, sucessivamente. O que se sabe é que a maioria dos seus compromissos financeiros ficava postergada.
O dito cujo, pouco a pouco, foi percebendo que algumas pessoas, cientes da sua situação financeira precária, muito embora não sendo considerado um caloteiro, começavam a fugir dele. E quanto a isso, não lhe restava outra coisa senão aguardar surgir algum “milagre” na sua vida para dar uma volta por cima. O que ele fez? Começou a por mais fé e otimismo em algumas loterias da Caixa Econômica Federal, que por sinal, são muitas. E começou a apostar conforme as suas parcas posses.
Certo dia, eis que a sorte resolveu lhe fazer uma súbita e alegre visita. Aquele vendedor de coco verde ganhou um bom prêmio em uma das loterias da CEF. Sem nada comentar com ninguém, nem mesmo com a sua família, imediatamente começou a saldar as suas dívidas e continuou trabalhando normalmente como se nada tivesse acontecido na sua vida particular. Disfarçadamente, levava uma vida bem mais tranqüila do que nunca, pois agora não devia a mais ninguém. E muito menos se importava com o que comentavam sobre ele. A metamorfose foi atingida no seu bolso, mas, pouco a pouco alguns bisbilhoteiros, percebendo que aquele pequeno comerciante andava mais alegre do que o normal, começavam a jogar indiretas, tentando descobrir o que realmente acontecera.
Não resistindo uma triste história de um dos seus fregueses, não titubeou. Emprestou-lhe certa quantia. Fato este inusitado, o qual se espalhou como um rastilho de pólvora. E a partir daí, aquelas pessoas que antes mudavam até de itinerário para não o encontrar, paulatinamente, começaram a passar pela sua banca e cumprimentá-lo. Ele percebia com facilidade que a inveja, a cobiça e o interesse estavam estampados no semblantes de certas pessoas. Mas ele as perdoavam. E o segredo continuava. Quando alguém tocava em determinado assunto sobre prêmios das loterias, ele logo tirava o seu time de campo para não cometer alguma contradição e entregar o ouro, ou seja, a origem da sua rápida fortuna. Deixava todos eles, como se diz, com a pulga atrás da orelha.
E como a maioria da sua clientela era do sexo masculino, onde a fofoca e curiosidade imperavam, pergunta-se então quem foi que disse que esse tipo de coisa pertence ao universo das mulheres? Há um nítido contrassenso nesta questão. Principalmente quando se chega à conclusão de que o mundo dá muitas volta e ninguém jamais saberá como será o dia de amanhã!
João Bosco de Andrade Araújo
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