ATÉ LOGO, MESTRE BOAL

ATÉ LOGO, MESTRE BOAL
Jorge Linhaça

Conheci Augusto Boal em uma de minhas últimas atividades teatrais.

Formamos dentro do sistema penitenciário do estado de São Paulo, vários núcleos tetrais, com agentes penitenciário, para trabalhar dentro das propostas do Teato do Oprimido.
Após uma selação estadual, o grupo que eu integrava foi escolhido para representar o estado em um encontro em Brasília.

Tivemos a honra da presença do Augusto para assistir nossa apresentação naquela data, no prédio do Ministério da Justiça.

Passados o nervosismo e a euforia de apresentarmos nosso trabalho, após uma viagem exaustiva de quase 20 horas, pudemos enfim relaxar um pouco.

Foi durante esse período que, ainda com o figurino da peça, onde eu representava o líder de uma fuga de presos, tive a oportunidade de conversar com o grande dramaturgo.

Encontrei uma pessoa absolutamente acessível e apaixonada pelo seu trabalho, estava realmente entusiasmado com os resultados obtidos pelos grupos mais que amadores alí presentes. A bem da verdade, apenas eu e um colega tinhamos alguma experiência de palco.

Boal era mais que um simples dramaturgo, era um homem que acreditava que a sociedade pode ser mudada através da arte.
Que o teatro tem o dever de ser uma ferramenta para levar as pessoas à uma reflexão sobre a sociedade em que vivemos.

O projeto do qual tive o privilégio de participar, nos deu a oportunidade de nos apresentarmos em várias universidades
e interagirmos e responder a vários questionamentos no forum aberto logo após cada apresentação.

Boal era uma figura até mesmo um tanto tímida, durante nosso encontro não o vi preocupado em ser visto, pelo contrário, mais observava do que qualquer outra coisa.

Nosso diálogo foi centrado no seu trabalho e no nosso, não posso dizer que fiquei horas conversando com ele, mas o pouco que conversamos foi bastante enriquecedor.

Boal dava voz aos oprimidos, fossem eles quem fossem, dava oportunidade de se manifestarem nos palcos da vida e dos teatros.

Hoje recebo, surpreso, a notícia de sua morte.
Não nos tornamos amigos naquela ocasião, mas isso não é o mais importante, conheci-o e, conhecendo-o encontrei um espelho das minhas crenças socias.

Por isso , hoje digo um até logo ao mestre Boal.

Fica a saudade e a admiração sedimentada naquele dia.

Fica a responsabilidade de, dentro de minha pequena esfera de atuação manter vivo o sonho da transformação social através da arte, seja ela qual for.



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Arandu, 2 de maio de 2009