Sodade, meu bem, sodade

"Que a música que ouço ao longe

seja linda ainda que triste

Que as pessoas que amo sejam

pra sempre amadas

Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade"

Metade - Osvaldo Montenegro

“Sodade, meu bem, sodade, sodade do meu amor...”

Ontem ao comentar um texto sobre saudade, escrevi: “É a alegria de ter o coração habitado de lembranças de todos os matizes e tons. É a ausência do vazio da alma.”* É isso e mais e já escrevi aqui, em outros textos, muita coisa sobre esse sentimento tão próprio de quem ama.

Lembro - me que alta noite, eu menina e já com insônia, sentia saudades de minha boneca e vagueava pela casa, procurando-a. Arrumava-a e colocava-a do meu lado, com ternura de mãe que embala um bebê. Saudades da inocência ao me desculpar por tê-la largado em qualquer lugar.

Adolescente, longe casa tinha saudades até das brigas com os irmãos, da voz da mãe cantando, da presença do pai na hora de dormir. Saudades do aconchego da casa dos pais, nosso abrigo definitivo.

Adulta, virei um “Bicho-saudade”. Um tipo de ser habitado por um sentimento assim meio sei lá, meio talvez. A característica desse bicho é o olho brilhando e você não sabe se de alegria, se de tristeza, mas se reparar bem, saudades.

Não há um poeta que não tenha escrito algo sobre e o cancioneiro popular está cheio de canções belíssimas. Tenho paixão especial por “Sodade, meu bem, sodade”, de Zé do Norte, pela singeleza da letra e da melodia inesquecível, mas também lembraria, num instante, mais uma dúzia delas e um sem fim de poemas e de tantos outros textos, todos com razão e propriedade no que dizem.

Saudade é sentimento de quem ama, já disse, e quase sempre, está associada à ausência, perdas de entes queridos, amores e afetos distantes, amores desfeitos.

Às vezes, em meio à confusão do trabalho, ligo para casa para ouvir a voz de meu filho. E digo... “saudades de você”, ele ri e meu coração se aquieta.

Volta e meia mando poemas por email ao meu amor. É meu jeito de dizer “estou com saudades... me espera...”

Os amigos também sabem o quanto gosto de assumir minhas saudades. Telefono quando dá, mando email, cartão... E não é por carência. É que nunca fui ávara de afetos e nunca me incomodei com esse lado “mãezona", aliás, na universidade minhas amigas me apelidaram de “Mãinha”, por motivos óbvios. Tomava conta, dava carinho, bronca, comprava briga, mas o mais engraçado era ter que explicar o apelido... Saudade daqueles tempos, quando achávamos que o mundo era nosso.

O “Bicho-saudade” sente saudades até do ainda não viveu e pensa que entende de saudades. Fala dela com intimidade e reverência, com tristeza e por vezes com raiva, mas sabe que a saudade alimenta o que há de bom e belo em sua vida: a emoção de amar em plenitude.

Saudade

Um lindo poema do mineiro Mario Palmério, musicado por Renato Teixeira

Se queres compreender

O que é saudade

Terás que antes de tudo conhecer

Sentir o que é querer e o que é ternura

E ter por bem um grande amor viver

Então compreenderás

O que é saudade

Depois de ter vivido um grande amor

Saudade é solidão, melancolia

É nostalgia é recordar viver

Se queres compreender

O que é saudade...

*comentário no texto Você sabe o que é saudade? Guilhermino