EDUARDA.
Ela chegou!
Esperamos tanto. Fizemos planos e nos preparamos para receber esta menina como se espera uma rainha. E era uma rainha, quem em sã consciência pode dizer que não?
Sabíamos que era uma garotinha... O nome, já sabíamos também... Sabíamos o formato da boca pelo ultra-som (ultramoderno). Sabíamos até que ela ia nascer com pouquinho cabelo. Que evolução, meu Deus! A tecnologia pode permitir sabermos tudo... Grande ilusão.
Sabíamos tudo?
Não, de jeito nenhum... Sabíamos o trivial. Só o trivial.
Como imaginar o tom da pele? O amendoado dos olhos? A mãozinha de longos dedos de pianista? Os pezinhos à moda da mãe? O beicinho na ameaça do choro, e o poder reformador de opiniões do choro franco e convencedor?
Essa menina mudou o mundo. O nosso mundo! Obrigou à mãe força descomunal, para se tornar a mãe! Obrigou ao pai, a demonstração sutil de subserviência que só aos pais pode ser e é permitido. Aos avós obrigou a declaração de obediência eterna aos seus mais simples desejos. E ao tio e tia? Trouxe mudanças nos tons de voz, nos gestos e nas intenções. Essas, com certeza, muito mais puras e gentis, recheadas com a ternura, que só ternuras podem produzir.
Pois sim, essa menina mudou o nosso mundo, nossos desejos e sonhos para esse que era um nosso mais pobre mundo antes dela. Agora sonhamos com as suas mãozinhas fortes e os seus pezinhos seguros construindo e cobrindo caminhos. Com seus olhinhos amendoados divisando o futuro. Com seu sorrisinho maroto conquistando e amaciando a vida que começa. Estamos todos, loucos e inebriados por este novo amor já existente desde antes dela chegar e inacreditavelmente muito maior, quando percebido através do espelho daqueles lindos olhinhos. Então, Eduarda, você chegou e modificou a todos nós. Não nos deixe modificar você. Você está completinha e exatamente como deve ser. Vou pedir licença ao Fernando Pessoa, a quem, com certeza, você também irá conhecer e admirar, quando descobrir a mágica da leitura. Existem netinhas mais lindas do que a minha, mas não existem netinhas mais lindas do que a minha, porque essas netinhas não são a minha netinha. Pelo menos essa é a opinião sincera e imparcial do seu vovô! Seja bem vinda... Felizes belos três meses de vida!