A BUNDA DA ARINDA.
“Ela era linda! Morena... Grandes olhos verdes e um sorriso, que mais parecia uma pintura, de dentes tão lindos. Chamava-se Arinda. Um nome tão raro que eu nunca havia ouvido e também nunca esqueci. Os olhos eram raros, os cabelos eram raros, a boca e os dentes eram raros. E como eram... O seu jeito era de quem queria produzir uma revolução por onde passava, não sei se estou certo em pensar assim, mas tenho certeza que ela sabia o alvoroço que produzia na minha mente adolescente”. Este relato me foi feito por um amigo. Um homem sério, inteligente, culto e muito bem sucedido na vida. Ele é um importante industrial do fecundo e poderoso interior de São Paulo e me fez o relato em público. Público que incluía a sua bela esposa, diga-se de passagem. A falta da necessidade de falar em of mostra o quanto ele estava sendo sincero e não precisando esconder, não precisava de castigo. Este meu amigo, na sua adolescência (que já me deixa tão invejoso), era auxiliar na farmácia de um dos seus tios. Se me disse o nome dele eu não me lembro, mas o descreveu como um homem fino e educado, sisudo e exigente. O tio ficava boa parte do tempo na porta da farmácia, metido em um linho impecável e chapéu, sempre cumprimentando a todos que passavam com um leve aceno da cabeça. Queria se certificar que tudo estava bem, que os clientes estavam sendo bem tratados ou fazia aquilo simplesmente por prazer em ser educado. O que o tio não sabia é que quando a Arinda, com todo o seu conteúdo, chegava na farmácia, tudo mudava. O ar ficava mais puro, o cheiro fazia o cérebro tontear, o olhar fagueiro fazia a imaginação do meu amigo voar alto. Ele não precisava do salário de balconista da farmácia, só precisava estar lá para ver e sentir a linda Arinda. Se fosse hoje, ela seria atriz na Globo, seria vencedora do BBB, seria capa da Play Boy, seria esposa de um dos Ronaldinhos, seria fenômeno como diria um outro grande amigo meu. Às vezes ela adoecia... Isso mesmo, com todo aquele poder, ela também adoecia. Graças a Deus que adoecia... Bom mesmo era quando adoecia um pouquinho mais gravemente... O ótimo doutor nas ciências medicinais que, há muito já clinicava na cidade, preferia nessas situações, receitar medicamentos por via intramuscular. O meu amigo, nos dias que a Arinda adoecia, não saia da farmácia para nada. Que almoço que nada! O meu ofício é de utilidade pública, dizia. Como posso pensar em almoçar quando sei que a Arinda vai precisar ser medicada. Escola? É evidente que ele não ia às aulas nesses dias. Se não conseguia almoçar, muito menos ir à escola... Ficava ali, horas e horas de plantão. Esperava por todos que precisassem dele, principalmente ela! Arinda... A linda, estonteante, e voluptuosa morena dos olhos verdes! Ela deixaria a Juliana Paes no bolso. Sem mentira nenhuma! Luiza Brunet? Quem seria ela para chegar aos pés daquele monumento que era a Arinda! Podem pensar em qualquer mulher de hoje. Mesmo assim ela as poria no bolso... E valia a pena ficar sem almoço e muito mais ainda, perder as aulas do dia. Valia a pena sim.
A Arinda, por estranho e maravilhoso capricho, só gostava que lhe fossem aplicadas injeções na bunda! E ele me disse com todas as palavras que as aplicava...
“Sabe? Sou cumpridor dos meus deveres e eu estava ali para isso!” Disse-me, abrindo um largo sorriso, o sortudo...